domingo, 8 de julho de 2018

HISTÓRIA DAS FESTAS JUNINAS EM VALENÇA DO PIAUÍ


                                             XXX FESTIVAL CULTURAL PIAUÍ – 2018
                                                                  JUBILEU DE PEROLA

As manifestações juninas chegaram ao Brasil através dos colonizadores. Aqui se aclimataram e a medida que o território ia sendo desbravado, os hábitos e costumes atrelados as divindades católicas do mês de junho: Santo Antônio, São João e São Pedro, foram acontecendo e se cristalizando nas povoações recém criadas.
Os habitantes aqui existentes quando da chagada deste povo distante e diferente foram absorvendo de forma lenta, mas gradual a tradição européia.
No início, a única coisa que coincidia era o fogo que já fazia parte dos rituais dos povos ameríndios  existente  por estas plagas
Somente em 1808, com e chegada da família Real Portuguesa no Brasil,  ocorreu a eclosão das danças juninas, tendo por base os ritmos, cadência e coreografia da dança de salão praticadas pela nobreza, sob a influência francesa.
Assim, surgiram, as quadrilhas juninas, e foram se elastecendo chegando aos locais mais distantes do Brasil e se adequando ás realidades locais, principalmente as pecuniárias, porque cada povo tem seu estilo próprio de vida e de ver as coisas.
Em Valença, as manifestações juninas ocorriam anualmente como festa da fertilidade, em sinal de agradecimento as divindades pela boa colheita, cuja simbologia se resumia numa fogueira em frente a casa, uma árvore fincada no chão e em frente da fogueira, ou mesmo num mastro numa peça de madeira colhida entre as mais altas da redondeza
A fogueira, era acesa, ao anoitecer pelo patriarca da família, na noite do dia 23 de junho. No momento que a  família se reunia em frente da casa para referenciar o Santo de devoção em sinal de agradecimentos, momento também que convidavam os vizinhos próximos, parente e amigos.
 As crianças, brincavam de roda, as meninas, enquanto os meninos, de outras brincadeiras, como cavalo de talo de carnaúba, ou mesmo outras brincadeiras típicas da época.
Quando o braseiro começava, era hora de assar carne, ou mesmo assar abóbora, batata, macaxeira, peixe, sob o vapor da brasa ou do borralho.
Os jovens, aproveitavam o momento para fazer as simpatias, tais como, olhar o reflexo sob a bacia com água, esta muitos tenham medo, porque, caso não visse o rosto no reflexo da água da bacia, não completava o ano sem fazer e transcendência. Colocar a cera da vela branca para formar as letras do futuro cônjuge, colocar brasa da fogueira para saber se quando casasse ,ficaria viúvo para os rapazes e viúva para moças, Eram duas brasas cada uma tinha o nome e sexo, caso uma afundassem, a preocupação era tamanha, as vezes estas práticas de simpatia até causavam retardamento no casamento. Outras práticas era o do compadrio, crianças  jovens e adultos, pegavam um “tição” da fogueira e ali passavam fogo com temas dos mais simples aos mais exóticos e complicados. O mais importante era o compromisso firmado e a forma como eram cumpridos.
Estas e outras práticas eram utilizadas em Valença do Piauí. Embora dependendo da situação financeira de cada família, contratavam sanfoneiros para animar a fogueira, ou mesmo violeiros para as famosas cantorias, muitas vezes a família ficava até altas horas dependendo da animação. As famílias mais carentes , utilizam latas para produzir o som daí ter surgindo a famosa expressão Bate Lata 
Em 1958, ocorreu na Rua do Maranhão a primeira apresentação de uma quadrilha junina em Valença, com passos marcados e coreografados, por ocasião de um festejo de São Benedito.
Para ensaiar os passos coreografados veio um senhor da cidade de Picos - Piauí, o sanfoneiro, foi o Sr. Jose Filho, vindo da Lagoa do Sitio, neste período, pertencente ao município de Valença.
Os noivos foram Eutasio e Etevalda Oliveira. Os dançarinos: Mestrim e Teresinha, Jesus do Miné, Maria Joana, Mestre Dezinho, Nazareth e  Monteiro, e tantos outros jovens da cidade. A quadrilha junina coreografada foi o divisor entre as manifestações culturais de época e o novo modelo advindo de outras regiões.
A apresentação foi à grande novidade na cidade o que levou apartir do ano seguinte ocorrer novas apresentações e novos dançarinos ingressarem na nova dança junina da cidade. Com isso vários grupos foram se formando e a cidade pegando gosto pela dança da Quadrilha Junina, com isso o mês de junho em Valença tornou um outro aspecto sócio histórico e cultural com as quadrilhas juninas.
As escolas, também realizavam suas quadrilhas juninas, principalmente o Cônego Acelino sob a organização da Professora Maria dos Prazeres, pós os meados da década de 1960 o grupo junino saia em passeata,   pelas ruas da cidade .As crianças montadas em jumentos e outras caminhando, cujo trajeto era do Cônego até o Loreto, onde ocorria a festa, cujo culminância era a apresentação da quadrilha junina, com coreografias simples e passos também voltado para o tradicionalismo.
Por volta de 1984, a cidade já contava com vários grupos de quadrilha juninas individualizadas e sem um nome que os identificassem o grupo era conhecido pelo o nome dos organizadores da festa . Observando isso o Profª. Naildes Lima Verde, convidou o Prof. José Dantas, para organizarem um Festival de Quadrilhas Juninas, para escolherem os melhores grupos da cidade.
O local foi a quadra do  Colégio Santo Antônio. Nos anos seguintes novos grupos se formavam objetivando participar do Festival.
Em 1989, foi organizado o Primeiro Festival de Quadrilhas Juninas de Valença do Piauí, pela Prefeitura Municipal. Neste período o gestor era o Dr. Francisco de Assis Alcântara e a Secretaria de Educação e Cultura e Professora Ineide Lima Verde.
A Profª. Ineide Lima Verde, teve a iniciativa de organizar o Festival, num local mais amplo para atender o público que gostava de ver e dançar quadrilha junina.
O espaço escolhido, foi a Praça do Xerém, no centro da cidade. Para homenagear o local, a Profª. Ineide Lima Verde, codinominou o espaço como “Arraial do Gorgulho”, porque lá aos sábados ocorria a feira livre e o feijão era o produto mais encontrado e também  por ser o pratico típico de grande parcela das famílias valencianas . Com ou sem farinha, arroz, ou milho, o feijão faz parte do cardápio do povo valenciano, mais se não for cuidado com zelo, ele cria gorgulho, daí o nome do Festival, uma homenagem ao gorgulho inseto que dá no feijão quando não é bem cuidado.
Para organizar o primeiro Festival de Quadrilhas Juninas a Prof.ª. Ineide, Convidou para lhe assessorar, a Prof.ª. Nereide Fernandes e o Prof. Antônio José Mambenga. E no dia 28 de junho de 1989, ás 20h00min foi iniciada a festa com um grande público presente. Participaram os grupos: Quadrilha Joaquim Manoel, Quadrilha Bela Flor, Quadrilha Maravilha, Quadrilha Matutos da Noite, Quadrilha Renascer e do Zona Rural: Quadrilha do Fumal, Quadrilha da Isidória. A campeã foi a Quadrilha Bela Flor.
Nos primeiros anos era apenas no sábado, foi ampliado para sexta e sábado, depois para sexta, sábado e domingo e no período áureo acontecia a partir da quinta feira até o domingo. De 1989 ao ano 2000funcionou na praça do Xérem . Em 2001 foi transferido para praça do     Getulio Vargas, onde o nome Gorgulho foi substituído por alegria. Em 2005, o no festival voltou ser Gorgulho em 2007. Retornar para Praça do xerem. Em 2008, o festival  subiu para praça do Novo Horizonte em 2013 para o Espaço Cultural do CSU. O nome Gorgulho continua pela subjetividade e a forma de homenagear em espaço da feira livre onde a cultura popular se mantêm viva através das vivencias do cotidiano. As quadrilhas Juninas em Valença, se mantém, através da força de vontade dos grupos organizados, da Prefeitura Municipal, que oferece toda infra-estrutura para o evento, através de contratação de bandas, palco, som, iluminação, limpeza do espaço, decoração, premiações, banheiros químicos, para que o evento continue sendo uma grande referência na região do território do Vale do Sambito.
Neste ano de 2018, o Festival  completou 30 anos de existência, ocasião que foi comemorado o seu Jubileu de Perola. Para marcar o natalício, vários grupos de Quadrilhas Juninas se apresentaram, tanto da cidade como grupos visitantes vindos de outras cidades, bem como apresentações culturais de danças folclóricas e para folclóricas. Completar 30 anos de existência um Festival Cultural de Quadrilha  Juninas, é poder dizer que "a cultura não é um substituto para vida e sim a chave para própria vida." porque não foi fácil, chegar a trigésimo ano de apresentação, mas as dificuldades os erros, os acertos serviram de base para entender que o povo é sim o grande protagonista da sua própria cultura e o Festival funcionado como elo entre o querer e o fazer de nossa gente na certeza que as Festas Juninas de Valença do Piauí, são referências em todo região central do Piauí.
                                                          Valença do Piauí, 25/06/2018
                                                         Prof. Antônio José Mambenga
Especialista(lato Sensu) em História do Brasil e História Social da Cultura