sexta-feira, 7 de abril de 2017

PROCISSÃO DE BOM JESUS DOS PASSOS EM VALENÇA DO PIAUÍ





                                          Foto: Foto Marques e Portal v1


A Procissão de Bom Jesus dos Passos em Valença do Piauí, é realizada há séculos, dentro da programação alusiva à Semana Santa, na sexta-feira que antecede os chamados "dias grandes".
Tudo começa na quinta-feira à noite, onde é realizada a Procissão da Fugida de Bom Jesus, num cortejo que sai da Igreja Nossa Senhora do Ó até a Igreja São Benedito. Nesta Procissão religiosa em Valença do Piauí, só podem participar homens.
 O cortejo sai as 23:00hs  pós um terço religioso, rezado pelos devotos. Percorre o centro histórico até chegar a secular igreja São Benedito, onde o Padre faz orações e os devotos deixam as velas conduzidas durante o percurso. No dia seguinte, meio dia é rezado o ofício do Bom Jesus dos Passos e as 17:00hs a missa. Após a missa a Procissão segue pelas principais ruas da cidade onde estão localizados em pontos estratégicos os nichos, simbolizando as estações(via sacra), num total de 14 e a 15ª é na Igreja Nossa Senhora do Ó.
A Procissão de Bom Jesus dos Passos, é a maior das Procissões religiosas da região valenciana. Para ela converge, além do povo da cidade,  um número bastante acentuado de pessoas oriundas da zona ruaral e de outras cidades circunvizinhas.
O que caracteriza a Procissão, além das imagens de Bom Jesus e de Nossa Senhora das Dores, é a flor de Passos, conduzida pelos participantes. Muitos conduzindo desde a Igreja São Benedito. Outros, adquerindo à medida que vão ocorrendo os Nichos. Cada família selecionada, ornamenta o nicho com flores naturais, e com a tradicional Flor de Passos e alecrim silvestre. No frontal do nicho, folhas de palmeiras entrelaçadas dão um aspecto bucólico ao espaço.Convém dizer, que a Flor de Passos, foi introduzida na Procissão de Bom Jesus dos Passos aqui em Valença-PI,   no  final do século XIX, pelo Cônego Acylino, que era natural da cidade de Oeiras-Pi e de lá trouxe a tradição.
Durante o espaço percorrido, devotos pagam promessas. Muitos vestem-se de roxo; outros debulham terços religiosos; outros conduzem velas acesas ou mesmo carregam pedras sobre a cabeça,  conduzem cruz.de madeira. É comum vestirem batas roxas.
Muitas famílias, aqui em Valença-PI, neste dia não comem carne vermelha, optam pelo peixe, porque mantêm a tradição do jejum, iniciando assim o cardápio típico da Semana Santa, quibebe de abóbora, com maxixe, quiabo, macaxeira, folha de quiabo, temperado com manteiga da terra ou mesmo nata de leite. O arroz, o feijão e uma torta feita com ovos de galinha caipira, complementam as refeições. É claro, que este cardápio é variado, dependendo da situação financeira de cada família.Cada caso é uma caso diferente. O importante é que cada uma faz ou tenta seguir essa tradição religiosa e alimentar.
Em 1991, Pe Amadeu Matias, solicitou a Professora Dolores Matias, que se encarregasse de fazer o roteiro das Estações, bem como as ruas por onde ia passar a Procissão. Cuidadosamente, Profª Dolores Matias, cuida desta parte, enquanto, Sinhá Dona, Dona Benedita Dedé, cuidavam de arrumar o andor de Nossa Senhora das Dores e coordenar a Procissão de   imagem, da Igreja Nossa Senhora do Ó,   até o local do Encontro de Maria com seu Filho, na 6ª Estação. Sinhá Dona e Dona Benedita Dedé, eram também responsáveis pela seleção de jovens para representar Verônica, carinhosamente conhecida como Maria Beú. Várias foram as jovens de Valença que participaram deste momento, geralmente cantavam em Latim e também em Português.
Pós 1962, com o Concílio Vaticano II, muitas coisas foram retiradas. Por muito tempo, a Procissão ficou sem a participação de Maria Beú. Somente com o Pe. Amadeu Matias, Sinhá Dona e Dona Benedita, conseguiram retornar à tradição do Cântico de Maria Beú, na Procissão de Bom Jesus dos Passos em Valença do Piauí. Com a participação da Profª Teresinha Ferreira, a conhecida Teresinha do Mestre, foram até a residência do Pe. Marques, na Rua São João e solicitaram a letra do cântico e a tradução para a língua portuguesa. Com muito bom grado, Pe Marques, atendeu a solicitação das devotas e a pessoa escolhida para  interpretar Maria Beú, foi a jovem Neusa Leal, filha do Sr. Doca Paraiba e de Dona Maria. Neusa, ensaiou, em latim e em português, cantou e encantou. Foi a grande novidade da Procissão, o retorno da Maria Beú.
A nova geração ficou encantada. Enquanto os  devotos de  idade mais avançada, retrocederam no túnel do tempo pelo retorno á tradição. Neste ano de 2017,  Maria Beú, foi representada pela soprano Profª mestranda Renata Ferreira, com sua voz maviosa, atingiu os ouvidos atentos. Todos silenciavam para ouvir o canto de Maria Beú a cada estação da via sacra. Enquanto voltavam o olhar para as imagens do Senhor Bom Jesus dos Passos e de Sua Mãe Nossa Senhora das Dores, eram capazes também de observar  o movimento das Flores de Passos conduzida pelos devotos. Enquanto isso,  o cheiro forte do incenso exalava por toda região. Pe.  Klebert Viana, Pe Antonio Carlos e o Diácono Rogério Moura, conduziam as orações e agradeciam piedosamente as famílias que prepararam os Nichos, foram elas:(1ª Estação) na casa da Dona Maria de Lourdes Costa, (2ª Estação)na casa da Sra.  Sueli Lima Verde, na Rua do Maranhão;(3ª Estação) na casa da Sra.  Maria Antonia de Sousa, na Praça Jose Martins; (4ª Estação) na casa da Dona Dulce Veloso, na Rua Capitão Cineas Veloso; (5ª Estação) na casa do  Dr. Francisco Dantas(Piroquinha),(6ª Estação) na casa da Sra.  Maria do Socorro Alves, (7ª Estação)na casa da Sra.  Jacinta de Fatima, (8ª Estação)na casa da Sra.  Maria Nadi Maciel, na Rua Eurípedes Martins;(9ª Estação) na casa da Sra.   Marli Sousa(Buzuguh),(10ª Estação) na casa da Sra.  Maria  Helena Carvalho, (11ª Estação)  na cada da Dona Alice Barbosa, Rua Epaminonda Nogueria;(12ª Estação) na casa do Sr.  Marcos Ricardo,  (13ª Estação) na cassa do  Sr, Vieira Lima, (14ª Estação)  na casa do Sr. Mestre Chiquinho, na  Rua Epaminondas Nogueria; (15ª Estação) na  Igreja Nossa Senhora do Ó, na Praça Getulio Vargas. Assim, foi realizada a A tradicional Procissão, com o maior numero de devotos participando, ouvindo os cânticos e orações temáticas do periodo,  através da equipe de Liturgia das paroquias de Nossa Senhora do Ó e São Francisco de Assis.

Texto: Prof. Antonio José Mambenga