sábado, 26 de maio de 2018

PONTO DE VISTA: MANIFESTAÇÃO DOS CAMINHONEIROS - 2018


        O BRASIL PAROU E O PNEU DA MINHA BICICLETA FUROU E PAREI TAMBÉM   

  
 Parece que o Brasil acordou sem precisar alguem cutucar! Sem rótulo partidário, sem cor, sem outros apetrechos alusivos a nenhum sistema governamental. Foi um acordar por categoria operaria. Lembrei da Revolução Russa de 1917, quando o proletariado rural, foi a luta, enquanto se esperava, um movimento daquela natureza, proveniente dos operários urbanos da Alemanha ou mesmo da Inglaterra, mas foi da Rússia, no momento com menos referencia em termos de conhecimento letrado. Caso estivesse ocorrido no ano passado, apontaria como uma comemoração ao centenário da Grande Revolução, mas como todo movimento, não eclode sem planejamento, o que estar ocorrendo no Brasil, pode ser uma comemoração tardia, mas benéfica para mostrar que o homem é sim o protagonista da sua própria Historia, mas precisamos entender que  a Rússia, neste momento tambem está em voga. Tudo e/ou praticamente quase tudo converge, para o grande espetáculo, da grande invenção inglesa que leva o povo cantar, gritar, se emocionar e num gesto subjetivo ecoar goooollllll! Eu, também grito, sou brasileiro nato!
Avante Brasil! E como diz Karl Marx, "A História da humanidade até hoje tem sido a história das lutas de classe. Outros pensamentos, também povoaram a mente de muitos brasileiros. Uma certa vez li, não me recordo muito bem o autor e/ou autora, mas ficou marcado na memória "....já é tempo do brasileiro tomar vergonha na cara e pensar por si próprio! Pára dos outros pensarem por nós...!." será se estamos amadurecendo e/ou sendo ainda um protótipo, deste grande pensamento? Viva o Brasil! Viva o povo brasileiro! Vamos a luta! Mas precisamos de Moisés?  -- Sim!  Precisamos, muitos outros moisés e de outros mais, porque o "mar vermelho" atualmente é multicolorido" e mais sólido, daí não ser impossível, basta cada um fazer sua parte! Quem sabe se de repente este mar  se abrir  e num passe de mágica, todos passarão e do outro     lado,  encontrarão novos horizontes e alternativas para    buscar o tempo perdido.
Aqui em Valença(PI), parcela do povo se sentiu partícipe do movimento,   filas foram necessárias nos postos de combustível  para que  veículos fossem   abastecidos do líquido precioso.
 Os mais eufóricos, até arriscavam mensagens, muitas delas como se estivessem gravando para fazer parte do “Projeto Brasil que quero” de uma emissora de TV brasileira. Outros, mantinham-se calados mas com gesto de preocupação pela  suposta crise do combustível ocasionada pela manifestação dos caminhoneiros.
Quando menos espero, senti algo diferente na minha bicicleta, até aquele momento sem preocupação, porque  não precisava nem de álcool, gasolina ou mesmo diesel, o pneu estava baixo e secou. Fui até a oficina mais próxima para solucionar o problema e veja o que me foi informado: --- Estamos sem material, se manifestou o operário que atendia no momento,  o caminhão que faz a entrega aderiu ao movimento e se encontra parado numa estrada deste Brasil afora. Com isso, voltei caminhando para casa e a bicicleta ficou parada, mas como cada um participa como quer e pode, fiz minha parte. E você? Para tento, precisamos entender   que "uma ideia torna-se uma força material quando ganha as massas organizadas"(Karl Marx).


Texto: Prof. Antonio Jose Mambenga
Valença do Piauí, 26 de maio de 2018


terça-feira, 1 de maio de 2018

EM VALENÇA DO PIAUÍ, O 1º DE MAIO, É DIA DE COLOCAR FLORES NAS PORTAS FRONTAIS DAS CASAS


             EM VALENÇA DO PIAUÍ, O 1º DE MAIO É DIA DE COLOCAR FLORES NAS PORTAS DAS CASAS
                                                             Prof. Esp. Antonio Jose Mambenga
        A cidade de Valença do Piauí, guarda na sua História muitas manifestações culturais, uma delas é colocar flores nas portas e janelas no dia 1º de maio de cada ano. O costume é bastante remoto,  trazido pelos primeiros habitantes no início da colonização desta região ainda no século XVII.
        A História Oficial, aponta a presença do colonizador   por estas plagas por volta da segunda metade do século XVII, quando da presença do Bandeirante Domingos Jorge Velho e seus comandados, no vale do Rio Santa Catarina, atual Rio Catinguinha ou suas imediações, onde foi fundado o Arraial dos Paulistas.
                                                                   “O Arraial de Paulistas” foi o único centro urbano do  Piauí
                                                                   no século XVII, e sucumbiu ante a escassez de índios   para
                                                                   serem capturados como escravos, ... Nos escombros  da po-
                                                                   voação foi erguida a atual cidade de Valença do Piauí,   no
                                                                   centro-leste do estado .(SILVA: 2008 – p 36)
                               
         Este povo, vinha provido de hábitos e costumes oriundos de seus ancestrais, dentre as quais a tradição de colocar flores nas portas e janelas na noite de 30 de abril, para saudar o 1º de maio, acredita-se ter iniciado neste período. Aqui os bandeirantes, passaram cerca de 16 anos e  deram continuidade, repassando aos habitantes  do Arraial de Paulista, os hábitos e costumes que absorveram com seus ancestrais na terra berço. O tempo se encarregou de cristalizar na memória de cada um, como deveria ser visto o dia 1º de maio de cada ano. Outros moradores foram chegando e se adequando a realidade local, até construírem uma identidade própria mesmo tendo  que se adaptar a realidade de cada um, seguindo o princípio que “o homem é produto do meio que vive”.
                                                              Segundo a tradição em parte do norte de Portugal, na noite de
                                                              30 de abril para 1º de maio, muitas pessoas colocam maias (gi-
                                                              estas floridas) nas portas das casas para lembrarem o     tempo
                                                              da fuga de Jesus para o Egito Noutras terras colocam      maias
                                                              no  ferrolho da porta para serem protegidos  das doenças e dos
                                                              Espíritos maus.(MOTA: 2012)   
            Assim foi passando de geração para geração esta tradição de origem europeia na atual  cidade de Valença do Piauí. Embora sofrendo adaptações conforme a época e limitação cultural de cada família. Todavia, é comum observar a forma como são tratadas as flores que são colocadas nas portas. Convem dizer que em Valença, as flores são colocadas nas portas e janelas no amanhecer do dia 1º de maio, dependendo do despertar de cada um. Os que acordam mais tarde, assim fazem mas ninguém, se arrisca colocar pós as 9 horas da manhã, primeiro pela temperatura ser alta oscilando entre 28° e 35° Graus  e comumente o 1º de maio raramente amanhece chovendo.
              Minha mãe, Sra. Benedita Luzia(1922-2017), cultivava plantas, dentre elas um exemplar de buganville vermelho, ofertado por sua madrinha Maria Juvina, quando ainda morava na Rua Areolino de Abreu, e a medida que mudava de endereço, providenciava uma muda para nova residência. Além da buganville, cultivava outros tipos de flores, como margarida, bredo, jasmim, e bugarim, para que  no dia 1º de maio, não lhe faltasse flores para colocar nas portas e janelas da casa onde morava. Neste dia tudo era motivo de  festa. Acordava muito cedo, colhia flores do pequeno jardim e complementava com flores silvestres colhidas nos arredores da casa e circunvizinhança, e colocava nas portas e janelas frontais, e na porta de entrada, fazia uma espécie de  tapete.  Com as demais, cumpria o mesmo ritual enfeitando tambem a casa dos filhos que moram próximos. Quando acordávamos, era bonito ver a singeleza das flores cultivadas e das flores campesinas ornamentando nossas portas e janelas e melhor ainda era saber que eram colocadas por nossa mãe. Às vezes “a maioria eram flores do campo, que deixavam transparecer até nos mais distraídos a singeleza da vida bucólica”, ali incrustada.
       Em Valença, o costume de colocar flores nas portas no dia 1º de maio, para o imaginário das pessoas, funciona como uma saudação ao mês de Maria, Mãe de Jesus, que conforme a tradição,  neste dia, a Mãe de Nosso Senhora Jesus Cristo, percorre toda cidade, abençoando as residências ornamentadas com flores.
                                                 Maio recebeu o nome do deus Maius que era o   deus da  primavera
                                                 E do crescimento. Para outros vem de Maia, mãe de Mercúrio.    As
                                                Celebrações em honra de Flora, a deusa   das flores e da   juventude
                                                (mãe da Primavera).  Iniciavam o novo ano agrícola e atingiam,    na
                                                Roma antiga, o seu clímax nos três primeiros dias de Maio. A Igreja
                                                Católica declarou Maio como o mês de Maria, a mãe e rainha.(MOTA:
                                                2012).
     
          No entardecer do dia 1º de maio, bem na hora do crepúsculo, quando as atenções se voltam pra o momento do Angellus, é comum as famílias valencianas que ornamentaram  suas residências com flores, ascenderem uma fogueira para iluminar a passagem de Nossa Senhora, que novamente faz o sentido contrário da visitação matutina, em sinal de agradecimento.
          O objetivo da fogueira, é se por acaso, Nossa Senhora, durante a passagem matutina, tenha passado na  residência, e ainda não estivesse ornamentada,   a luminosidade da fogueira ao anoitecer, serve como indicativo, que os moradores cumpriram com a tradição, mesmo fora do horário. Quando da Passagem Nossa Senhora,  abençoará a família e tudo fica resolvido. E como   tudo tem um tempo, a medida que a cidade foi crescendo, a fogueira foi sendo substituída por iluminação elétrica, fincada em postes de cimento.
          É comum também as famílias colocarem uma lâmpada na frente da casa, ou mesmo, acender uma vela de preferência de cera de abelha silvestre e na ausência desta uma vela branca comum. Enquanto isso, nos bairros mais distantes e na zona rural a tradição da fogueira ainda permanece em voga.
           Na  década de 1940, quando a cidade se resumia entre a ruas do Maranhão, rua do Fio, rua do Fogo, Largo da Bela Flor, Cacimbas, Casa do Loreto e outras poucas casas na atual Rua Areolino de Abreu, no dia  1º de maio, a cidade era acordada pela cantoria do Ofício de Nossa Senhora, puxado por Dona Tereza Preta, moradora num casebre onde atualmente é a Casa Renascer, Dona Felisbela, mãe do Antonio de Mato, Dona Felícia, mãe do Pedro Mudo, ex-serviçal da Casa do Padre Aristeu, que morava na Casa Grande da Tranqueira, Dona Antonia, Mãe de Siá Chica Paraguai e tantas outras.  Das Cacimbas, participavam: Dona Josefa e Dona Matildes, irmãs de “seu” Lucas de Dona Neguinha. E  do Sítio Betel, eram presenças garantidas, a mãe da Maria Pretinha, Chiquinha Furtuosa,  Dona Maria Germana e a mãe do João Urubu. Estas mulheres, faziam a diferença, saiam cantando  em alta voz o Ofício de Nossa Senhora, rua acima e rua abaixo, numa linguagem entre a língua oficial e um latim, conforme aprenderam pela oralidade. Elas conduziam muitas flores, algumas  cultivadas  e a maioria eram  silvestres. O ritual era exótico, mas em momento algum se tem notícia que foram clicadas pela lentes do fotógrafo de época, Sr. Benedito Macaco, pai da Maria Macaquinha. O certo é que além de passarem pela Igreja São Benedito, e Nossa Senhora do Ó, onde deixavam parte das flores, tinham paradas nas casas de suas patroas, locais que  durante o ano exerciam prestação de serviço, umas como cozinheiras, outras como  lavadeiras de roupas, babás, ou mesmo como operárias no período da colheita dos cajus. Dentre elas, existiam aquelas que eram boleiras, e/ou outros serviços típicos de época como botadeiras de água do Rio Catinguinha para o consumo doméstico.  Muitas vezes paravam, na Casa da Dona Dina Dantas, Dona Odila Martins, Dona Chiquinha de “Seu” Abdon,  e de Dona Maricas do Sr. Clovis, aonde aumentavam a voz para que Nossa Senhora ouvisse melhor suas vozes. Examinadas  o porque das paradas em pontos estratégicos, Tereza Preta como era mais extrovertida, respondia: -- São estas pessoas que nos socorrem no momento que mais precisamos durante o ano todo e neste dia, somos gratas a Nossa Senhora e a elas pelos que fazem por nós. Em cada uma destas casas elas deixavam flores que somavam com as já existentes embelezando a cidade de Valença e mantendo viva a tradição do 1º de maio.
           O certo é que no 1º de maio, a cidade de  Valença do Piauí, era contemplada com a manifestação cultural das flores nas portas das residências, e a cantoria do Ofício de Nossa Senhora,  protagonizado por estas senhoras simples e anônimas que tinham uma forma diferente de saudar Nossa Senhora  pelas benesses recebidas e suas patroas pelo serviço que lhes davam durante o ano.
          Assim, a tradição era mantida e ainda continua na contemporaneidade, mesmo tendo ficado apenas na memória a participação das senhoras cantoras, que eram vistas mais pela forma exótica de manifestação de que mesmo como expressão de uma cultura popular e laicista,  mantida em nossa cidade  por muito tempo. Atualmente o 1º de maio é lembrado mais pelas flores colocadas nas portas e janelas das casas enquanto a memória se encarrega de atiçar as mentes atentas que garimpam os modos,  hábitos e costumes de nosso povo num determinado tempo histórico que ocorria no 1º de maio.

BIBLIOGRAFIA

CARITA, Lourdes, Tradição das Maias ... uma pratica tradicional e intercultural Recordação cristã e pagã – 12/05/2012 – Blog: http://abemda nação.blogs.sapo.pt 
MAMBENGA, Antonio Jose, Em Valença-PI,  Colocar Flores Nas Portas No Dia 1º de Maio é Mito Ou Tradição?:  www.tribunadevalenca.com  -  01/05/2017
MOTA, Maria do Céu, Maias à porta do 14º de Maio. https: www.aventar.eu – 01 de maio de 2012
SILVA, Reginaldo Miranda da, Piauí de Paulista, Revista História da Biblioteca Nacional, ano  03 – Nº 34 – Julho de 2008 – Rio de Janeiro - RJ