quinta-feira, 30 de março de 2017

SR. RAIMUNDO DUARTE DE ARAUJO, UM VALENCIANO DE CORAÇÃO

                                                                     HISTÓRIA DE VIDA



     O homem é um ser social histórico e cultural e conforme o meio que o cerca, consegue transformar sonhos em realidades, dependendo de seu projeto de vida em prol do bem comum.
      1930, o mundo vivia as tribulações ocasionadas pelos regimes  totalitários do nazismo alemão e do fascismo italiano. Por outro lado, as conseqüências da economia norte-americana, ainda em constante pesadelo causada pela crise financeira da quebra da Bolsa de Valores de New York em 1929, atingindo de forma crudelíssima o restante do mundo.
      O Brasil, politicamente abalado, procurava entender os novos paradigmas administrativos provenientes das rupturas do sistema da política do Café com Leite. Enquanto isso, na localidade Riacho Vermelho, zona rural da cidade de Crato – Ceará, no dia 05 de setembro 1930, nascia uma criança, que recebeu dos genitores o nome de Raimundo.
     Seus pais: O Sr. Pedro Regino de Araujo e a Sra. Silvina Duarte de Araujo, ficaram muito felizes pela graça divina, do menino Raimundo ter nascido com muita saúde. Cumpriram os rituais de família e da localidade, soltaram fogos anunciando aos parentes e vizinhos a chegada do menino, pois era o primogênito.
     O tempo passou, o menino Raimundo foi registrado no cartório do Crato com o sobrenome da família, “Duarte de Araujo” e como toda criança de sua época teve sua infância nos mesmos padrões. Na Igreja Católica, recebeu os sacramentos de batismo, 1ª Eucaristia e Crisma.
      Na comunidade, o menino Raimundo, se dividia entre a vida bucólica dos Sítios Guaribas e Poço Dantas, às agitações da vida urbana na cidade de Crato e Juazeiro do Norte, e como os demais moradores da região se dividia entre o místico da religiosidade do Pe. Cícero ou mesmo da tensão nervosa da cidade ser atingida pelo bando de Lampião o Rei do Cangaço.
       Raimundo Araujo, teve os seguintes irmãos:  Françuar Duarte de Araujo (In memorian) Francinete Duarte Araujo, Maria do Socorro Duarte de Araujo, Antonio Duarte e Araujo(In memorian) Aldevanda Duarte de Araujo, Helival Duarte de Araujo Francival Duarte de Araujo.
      O menino Raimundo Araujo, recebeu as primeiras lições de conhecimento escolar na própria família, pelo conhecimento empírico proveniente dos pais. Mas foi na cidade de Crato, onde cursou o Fundamental no Colégio dos Padres, adequerindo o suficiente para enfrentar a vida com o néctar cultural absorvido dos professores.
      Muito jovem despertou o interesse pela dança,   aprendeu logo cedo, menejar o violão, o que favoresceu aguçar a mente em prol da Cultura. Ainda na adolescência sentiu-se tocado pela vontade de entrar no Seminário religioso católico, porém ocorreram alguns obstáculos e o jovem Raimundo optou apenas para cumprir sua trajetória católica apenas como leigo, mas em momento algum deixou de fazer suas leituras bíblicas, frequentar e praticar os ensinamentos dos Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja.
      O tempo foi passando, com ele ocorriam as transformações advindas do meio que vivia e do próprio mundo.  Enquanto Raimundo Araujo, migrava da adolescência para a juventude, o mundo europeu se transformava em campo de Batalha através da II Guerra Mundial, o que mexia psicologicamente com os ideais da juventude através da instabilidade sócio histórica e cultural das pessoas.
      Foi nesse clima tenso, que Raimundo Araujo, recebeu o convite de seu tio Luis Regino de Araujo para trabalhar no Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) juntamente com mais dois primos. Primeiramente exerceu funções burocráticas, mas o que ele queria mesmo era ser motorista, função que veio depois. Naquele período o DNOCS, estava construindo açudes em todo Nordeste, mas Raimundo foi designado para o Piauí, cuja prestação de serviço foram nas cidades de Piripiri (açude Caldeirão), Pio IX (Cajazeira) e Paulistana(Ingazeira).
      Quando morou em Oeiras-PI, foi amigo do Dr. Raimundo Machado, que era Odontólogo, daí incentivado por ele aprendeu o ofício de protético, profissão que lhe favoresceu uma vida nômade, oportunizando aos clientes um belo sorriso com ouro reluzindo na maioria das vezes, pois era moda de época “os dentes de ouro”. Era o momento do Pós II Guerra Mundial, onde o querer das pessoas se transformava em ser. E Raimundo Araujo, como profissional de um dos seguimentos da beleza, resolveu fixar residência no Piauí.
          Conhecendo bem a região devido a prestação de serviço junto ao DNOCS, Raimundo Araujo, ainda bem Jovem 20 anos, instala uma oficina mecânica em Várzea Alegre, naquele tempo Valença, atualmente, Elesbão Veloso e sua prestação de serviço se espalhou pela região momento também que o solo piauiense era rasgado na construção da BR 316.
Em Valença, sede da cidade, Raimundo Araujo, foi testemunha ocular da insatisfação do povo pela não aceitação da passagem da rodagem por fora da cidade. Foi ele quem me contou da carta que as mulheres valencianas enviaram para a Primeira dama do País esposa de Getúlio Vargas, solicitando a passagem da rodagem pelo centro da cidade e da demissão do Ministro por não aceitar a causa. Movimento popular que culminou com a criação da Liga Valenciana, cujo discurso inicial coube ao Prof. João calado (1952)
        Em Elesbão Veloso, o coração de Raimundo Araujo, foi alcançado pela flecha do cupido. Casou-se com a jovem elesbonense Cleonice Lima Verde, na Igreja Santa Teresinha, cuja celebração matrimonial foi assistida e abençoada pelo Reverendo Pe. Marques, de cujo consórcio, nasceram: Maria da Cruz – Maria Cleonice e Raimundo Nonato.
        Em 1972, Raimundo Araujo, chegou em Valença, fixou residência na Rua General Propécio de Castro e a Oficina Mecânica e Lanternagem na mesma rua, sendo que a entrada ficava com frente à lateral do Posto de Gasolina São Jose, naquele período do Sr. Joaquim Xavier e anos  depois do  Sr. Valdemar Moura, atualmente é do Grupo Valadares.
        Em Valença, fez muitos amigos, foi católico praticante e ajudava muito às pessoas que precisavam. Como profissional, era referência na região e até mesmo em outras localidades do Piauí ou fora em outros estados da Federação, uma vez que resolveu muitos problemas em carros quebrados, de pessoas de outros estados que trafegavam pela BR 316.
      Foi amigo pessoal do Pe. Marques, de quem tinha muita confiança e consideração e de quem recebeu o convite para morar em Valença. Outras referências de amizade, era com O Sr. Tarcisio Soares, Sr. Zé Soares da Fazenda Regalia,  Arão Tenório, Sr Antonio Aderaldo e tantos outros, e num período bem próximo década de 80, Zé Nica, pessoal do Crovapi  Mestrinho, pessoal da da Maçonaria, pessoal dos grupos de Igreja dos quais ele participava, sem contar da amizade família do primo irmão Lausemiro Duarte Pinheiro e família.
            O Mário Fernandes, tinha como filho do coração, Ten. Vieira, Arimatéia Sousa, John Kenned Soares, e os vizinhos como a família do Sr. Vieira e do Sr. Zé Pilicio. Valença foi o local que escolheu para viver.
       Profissionais como Dedé Cesário, Adail do caboclim, Luis de Arão Tenório, Compadre Chico, Churica, Chico dos Portões, Piraca, Benedito da Tereza, Dudé,  Gonçalo Vidô,  João Pintor,  “eu”(Antonio Jose ) , passaram por seus ensinamentos, cujo conteúdo, são aplicados não só em Valença, como em outras paragens desse país afora.
       Raimundo Araujo, foi membro da Moçonaria, chegou ao grau 33. Foi membro da Confraria de São Vicente de Paula, Foi Presidente do Crovapi Clube.
        Na Igreja São Francisco de Assis Bairro COHAB, juntamente com a Profª Neusa Gomes e Profª Teresinha Mambenga, formaram a Associação de São Francisco e de Santa Clara, com reunião aos sábados, das quais meus filhos Icaro e Suênia participavam.
       Raimundo Araujo, recebeu os Títulos Honoríficos de :
       - Cidadão Valenciano, dado pela Câmara Municipal de Valença
       - O Certificado do Grau 33 da maçonaria
       - A Medalha Governador João Pereira Caldas – Câmara Municipal
     Dentre suas devoções, além de São Francisco do Canindé, Nossa Senhora do Ó de Valença e São Raimundo Nonato, Santa Teresinha. E nas devoções populares  freqüentava a cova do Doidinho em Elesbão Veloso e do “Terto” em Valença desde os anos 80 do século XX, de preferência às segundas-feira. No dia de finados, 02 de novembro saia as 5:00h da manhã juntamente com sua esposa Dona Nicinha, passavam pelo Cemitério Local (São Benedito) pelo túmulo do Terto e seguiam para a cidade de Elesbão Veloso, fragmentando as paradas nos túmulos localizados na margem da estrada, especificamente os anônimos, pois a vida de caminhoneiro lhe favoreceu essa maturidade, ele temia que um dia pudesse ser um daqueles e que a distância dos familiares lhe deixasse sem visitas. Chegando à Elesbão primeiramente visitava a Cova do Doidinho, o Cemitério local e seguia para a casa dos familiares.
         Em Valença, muito cedo, mandou construir seu jazigo localizado bem no início do  chamado Cemitério novo e em ar de alegria dizia “....aqui será minha eterna morada, quando eu estiver aqui por favor me visite (risos)”.
        Nas viagens que fazia para Canindé, para visitar São Francisco, primeiramente passava por Crato terra berço. Muitas foram as viagens,  que tinha como passageira a lendária Eva Maria da Conceição, mais conhecida por “Preta Mão de Onça”, cujos cuidados ficavam a cargo de sua esposa Nicinha, (....)
       - E como tudo passa, a idade avança, o tempo se transforma chegando o momento de olhar para trás reviver os bons momentos e às vezes refletir sobre algo que deixou de fazer. É nesse giro de 360° onde o homem descobre a certeza do dever cumprido e nos momentos de reflexão aguarda a hora certa para ocorrer a transcendência, no caso de Raimundo Araujo, aconteceu dia 13 de outubro de 2014 à 7:30 da manhã na sua atual residência localizada na rua 1º de maio em Valença do Piauí.
        Raimundo Araujo se foi, mas as ideias e a prestação de serviço, resultados do hercúleo trabalho que desenvolveu em favor das pessoas estão fincados indelevelmente no solo valenciano e porque não dizer no solo brasileiro!
         Foi o homem, ficou a História, mas a certeza do dever cumprido

Texto: Prof. Antonio Jose Mambenga

           
    




sexta-feira, 3 de março de 2017

FRANCISCO DE ASSIS LIMA, O CONHECIDO "BAXIM DO TAXI"



A vida na sua essência,  é constituída por uma caminhada. Para uns, muito rápida. Para outros,  mais elástica, mas existem aqueles que ela se torna longa . Essa longevidade é que oportuniza a definição da pessoa no mundo que a cerca tornando-se, um ser capaz de  protagonizar sua própria história.
O ano de 1942 transcorria normalmente, a localidade Buriti, atual Ipiranga do Piauí, vivia a  o auge da produção de maniçoba. Muitas famílias prestavam serviços para os comerciantes locais. Enquanto na   Europa, a Segunda Grande Guerra destruía vida e sonhos. Mas no meio de tudo isso, na comunidade Buriti, pertencente ao município de Oeiras-Pi, dava continuidade a vida, tanto que no dia 29 de outubro, nascia uma criança, que na Pia Batismal recebeu o nome de Francisco de Assis. Seus pais, Cesário Joaquim  de Lima e Luiza Josefa da Conceição, sentiram felizes pela chegada do novo membro da família, perfazendo uma prole de 9 filhos.
O tempo passou, o menino Francisco de Assis, foi crescendo e com ele suas utopias. Era muito sapeca, extrovertido, corajoso, conversador, o que fazia a diferença entre os demais membros  da família.
Sua juventude, foi uma comédia, ainda na adolescência aprendeu o ofício de sapateiro, quantos pés calçaram sapatos, sandálias, chinelos confeccionados por suas mãos? Tudo isso, despertou o gosto estético daquilo que produzia, bem como o carisma de comerciante. Primeiro como marreteiro, cuja atividade profissional atualmente é conhecida por comerciante   ambulante, ou mesmo camelô.
 Como credialista,  teve que ultrapassar as fronteiras da localidade onde nasceu, já mais desenvolvida e também emancipada com o nome de Ipiranga do Piauí.
Em  março de 1963, casou-se com Maria Valma, natural da localidade Buriti Cumprido, município de Inhuma-PI
Do enlace matrimonial com Maria Valma, nasceram: Elzenir, Antonio Neto, Elzimar, Elzilene, Francisco de Assis, Elza, João de Deus, Teresinha, Jose Antonio, Maurício, Eliene e Douglas. Uns nasceram em Ipiranga, outros em Valença-PI.
A família, crescia, a responsabilidade para manutenção também, Francisco de Assis, ganhava o mundo trabalhando para o sustento da família numerosa, enquanto Maria Valma, sua esposa, cuidava das prendas domésticas, da educação dos filhos e no veio da máquina diuturnamente desenvolvia a arte de costureira para também ajudar no sustento de casa.
Foi nessas andanças, que Francisco de Assis, escolheu Valença para fixar residência, cuja chegada ocorreu em agosto de 1982. Primeiramente, a família foi instalada no Bairro Cacimbas, na Rua Areolino de Abreu, frente a casa da Aldenora, e ao lado da casa da Bia. Pós um ano, já com uma estabilidade financeira mais definida, comprou uma casa no Bairro Lavanderia, na Rua Adeodato Veloso, onde fixou residência até o dia da sua transcendência.
Em Valença-PI, cidade escolhida por Francisco de Assis, para fixar residência, lhe deu estabilidade financeira para conduzir a família, educar os filhos e mudar de atividade profissional, comprando um fusca de cor vermelha, transformando-o em taxi, cuja atividade profissional lhe deu um novo codinome, “Baxim do taxi”, símbolo de coragem,  trabalho e honestidade.
No início, adotou como  “ponto de referencia” para prestação de serviço como taxista,  a lateral da Igreja Matriz Nossa Senhora do Ó, ao lado da Rua Epaminondas Nogueira, depois subiu para o Terminal Rodoviário, e por último frente o Hospital Regional Eustáquio Portela.
Em todos os locais, conquistou a simpatia das pessoas pela prestação de serviço e a cordialidade como tratava os clientes. Muitas vezes naquelas situações extremas, prestava serviço de forma cordial, momento em que agradecia a Deus pelas benesses recebidas.
Baxim, como era carinhosamente tratado por sua esposa Maria Valma, ou mesmo Baxim do Taxi, como era tratado pelo povo valenciano.
 Foi o “pequeno notável”. Sua estrutura física, não foi empecilho praticar grande prestação de serviço à comunidade. Onde ele estava não tinha tristeza.
Em casa, no convívio familiar, era o pai bondoso, comunicativo, mas cheio de ordens, mas de uma sensibilidade extrema. Gostava de música, de festas, inclusive tocava violão e sanfona. Era comum nos bailes onde chegava, tocar duas músicas. Apenas duas, mas  de sua autoria. Outro dom artístico era o de criar versos de improvisos. No cotidiano, era comum saudar as pessoas com versos de improviso aludindo a situação do momento. Podemos destacar, quando da visita de Dona Maria Prestes, à Cruz dos Revoltosos, localizada nas imediações de sua residência quando de sua passagem por Valença em abril de 2014. “Baixim", fez uma saudação a Dona Maria Prestes, agradecendo sua visita ao local histórico em nossa cidade.
 Nas  emissoras de rádio, era comum sua participação nos programas, tanto ao vivo como por telefone. Em todos levava uma palavra amiga e cultural aos ouvintes. Porque Baxim, era símbolo de alegria.
 Nos comícios políticos, era comum sua participação, conforme o segmento que estava defendendo, mas entendia também que  a ideologia do partido contrário era também uma ideologia, uma vez que era amigo e gostava de respeitar todos.
 Como religioso, tinha suas devoções individuais e coletivas E por ser um homem temente a Deus, respeitava as limitações dos outros bem como seus cultos religiosos, baseado em João 14:6  “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.  
Mas como ciclo da vida tem início meio e fim, com “Baxim”, não foi diferente. Ele nasceu! Ele viveu! Mas chegou um momento em que o homem matéria, apresentou  sinais que precisava parar. Parar para pensar! Para cuidar da saúde! Ele seguiu todo procedimento. E de  forma incansável encarou a vida. Em momento algum deixou de ser aquele homem  de fé e de coragem. Mas o próprio ciclo da vida lhe dava sinais. Sendo que dia 25 de fevereiro às 7:30 da manhã, ocorreu sua transcendência, deixando a família, parentes e amigos. Mas como disse Hermann Hesse: Para cada chamado da vida, o coração deve estar pronto pra a despedida e para novo começo. Foi o homem, ficou sua História e a certeza do dever cumprido! “Que as experiências vividas e compartilhadas por ele no percurso de sua vida, sejam alavancas para alcançarmos a alegria de chegar ao destino projetado.

TEXTO: Prof. Antonio Jose Mambenga

                                    
                                  Valença do Piauí, 03 de março de 2017