terça-feira, 9 de agosto de 2016

ENTRE AÇOITE E GRILHÕES A PARTICIPAÇÃO DO NEGRO NO CONTEXTO HISTÓRICO DO PIAUÍ COLONIAL



FACULDADE DO NOROESTE DE MINAS – FINOM
ANTÔNIO JOSÉ PEREIRA DA SILVA











ENTRE AÇOITES E GRILHÕES, A PRESENÇA DO NEGRO NO CONTEXTO HISTÓRICO DO PIAUÍ COLONIAL

















VALENÇA DO PIAUÍ – PI
2013
FACULDADE DO NOROESTE DE MINAS – FINOM
ANTÔNIO JOSÉ PEREIRA DA SILVA










ENTRE AÇOITES E GRILHÕES, A PRESENÇA DO NEGRO NO CONTEXTO HISTÓRICO DO PIAUÍ COLONIAL







Artigo Científico encaminhado à Faculdade de Educação da FINOM, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em História e Cultura Afro-brasileira.









VALENÇA DO PIAUÍ – PI
2013

ENTRE AÇOITES E GRILHÕES, A PRESENÇA DO NEGRO NO CONTEXTO HISTÓRICO DO PIAUÍ COLONIAL

Antônio José Pereirada Silva ¹

RESUMO: A presença do negro na história oficial do Piauí é muito recente. Em se tratando de tempo, num passado bem recente a presença do negro no contexto histórico piauiense, não ultrapassava poucas páginas nos livros didáticos e quando isso acontecia era centrada num olhar europeizado o que podava um olhar convergente daqueles que por ventura queriam um aprofundamento objetivo. Os escravos negros entraram no Piauí pela estrada que ligava a feira de gado de Capoame, na Bahia, tendo como destino a Vila da Mocha, (Oeiras). Foram homens, mulheres, jovens e crianças que chegaram cujo destino era os engenhos, as fazendas ou mesmo pequenas propriedades que tinham o mesmo tope. Nestes locais, o negro procurou externar seu cotidiano bem como se predispor a ocultação dos hábitos e costumes típicos s da nova moradia. Todavia, entre o trabalho forçado e a senzala, o negro africano conseguia deixar rastro de sua cultura, através das lendas, crenças, mandigas e religiosidades, bem como danças e culinária. Embora, na maioria das vezes tais práticas fossem um motivo certo para castigos no tronco. Na vila de Valença (PI), não era diferente do restante da capitania do Piauí, cujas informações da presença do negro africano foi marcante servindo de base para Valença do Piauí, como também em outras cidades do Piauí que tiveram sua origem no período colonial.

Palavras - Chave: Negro. Senzala. Escravo.
                               

ABSTRACT: The presence of black in the official story of Piaui is very recent. In terms of time, in the recent past of the black presence in the historical context of Piauí, no more than a few pages in textbooks and when they did it was centered in what look Europeanized pruned a convergent perchance those who want a deeper purpose . Black slaves entered the Piauí the road that connected the cattle fair of Capoame, Bahia, having as target the Village of Mocha, (Oeiras). Were men, women, youth and children who arrived whose destination was the mills, farms or small farms that had the same tope. In these places, the black looked externalize their daily lives as well as predispose the concealment of the habits and customs of the typical s new home. However, between forced labor and slave quarters, the black African could trace their culture through legends, beliefs, mandigas and religiosity, as well as dances and cuisine. Although, most of the times such practices were a right reason for punishment in the trunk. In the village of Valencia (PI), was not different from the rest of the captaincy of Piauí, whose presence information black African was striking providing the basis for Valencia Piauí, but also in other cities of Piauí which had its origin in the colonial period.

Key - Words: Black. Slaves. Slave.

INTRODUÇÃO

Cada povo é construtor de sua História, daí se tornar detentor daquilo que produz, cuja forma como foi construída é que provoca a transformação. No caso brasileiro, o efeito das teorias raciais para o processo de aceitação do elemento negro e sua cultura, foi catastrófico. O negro era associado a todas as características nocivas do caráter humano. Foi observando essas causas que despertou o interesse de trabalhar o tema sobre o negro e sua importância no con-
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¹Graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual do Piauí, especializandoem História e Cultura Afro-brasileira, pela Faculdade do Noroeste de Minas (FINOM).
texto histórico do Piauí Colonial, objetivando entender a maneira como foi conduzido o labor compulsório do povo de origem africana na terra piauiense. Para tanto foi necessário mergulhar no processo histórico e bibliografias especializadas para obter suporte necessário para condução do trabalho em voga. Todavia as respostas não tardaram acontecer, a publicação Obra Completa de Monsenhor Chaves, como também Braço Forte de Solimar Oliveira, as informações da sobre a criança no Piauí colônia de Miridan Falci, juntaram com as publicações de Pe Claudio Melo e numa visão mais próxima o trabalho de Reinaldo Coutinho que aproximou a realidade local, intitulado Antiguidades Valencianas.
Todas essas referências proporcionaram a edificação desse trabalho que mesmo abordando uma realidade local e concomitantemente mais próxima de nosso povo e de nossa gente.
Não foi fácil trabalhar o tema “Entre açoite e grilhões a participação do negro no contexto histórico do Piauí Colonial”, todavia, foi possível adquirir subsídios capazes de provocar uma reflexão para se entender de que as realidades estão mais próximas de cada povo, mais do que se possa imaginar, daí a suma importância para própria comunidade local bem como pesquisadores no assunto e estudantes, no sentido de elastecer o conhecimento sobre a temática abordada. E como disse Manolo Florentino: No Brasil ainda não é um país onde a memória histórica tenha muito peso, pelo contrário, é um país onde as circunstâncias fazem com que as interpretações sejam várias, dependendo das circunstâncias.
O certo é que para construção de uma identidade é necessário pesquisa e conhecimento para alimentar os que se propõem solidificar as causas dos fatos e acontecimentos que protagonizaram a História de nosso povo.

DESENVOLVIMENTO

A história de um povo é construída de forma lenta e gradual. De um lado, pontua a História Oficial como detentora da veracidade absoluta, onde são mostradas as bravuras dos heróis, seus momentos de glória, estripe social, cor e religião. Do outro lado, apenas referencias, quando muito o grupo social que pertence ou mesmo a forma cruel como chegou à localidade e a função que iria desempenhar.Como anônimo, permaneceu tornando-se conhecido mais pela terra da origem ou pela quantidade de melanina concentrada no corpo, acrescido da qualidade bom ou ruim, retraindo assim as fotos e acontecimentos protagonizados de forma efêmera e secundária. No entanto os fatos e acontecimentos advindos do negro na nova versão da História Nova possuem o mesmo peso histórico que os oriundos das entranhas europeia, graças aos novos paradigmas que regem a historiografia oficial.

Se procurarmos pela África, no pensamento histórico, veremos que num primeiro momento, para que os estudos sobre a África pudessem avançar além de anotações sobre “a natureza exótica”, foi necessário vencer a ideia de que a África era um continente sem história... Os africanos apareciam, como herdeiros de costumes rudimentares, sociedades primitivas paradas no tempo desde períodos imemoriais. (ALMEIDA, 2007, P. 51).
           
A presença da História do negro na corrente oficial é muito recente em se tratando de tempo, tornando-se mais elástica bem diferente de um passado recente que ultrapassava de poucas páginas nos livros didáticos no Piauí, não era diferente existia certa anorexia por parte dos estudiosos para tratar do assunto em voga.

A História, contudo, comprova o que o olhar congestionado pelo euro centrismo não nos deixa ver, pois no caso da África, durante o transcorrer da História das Civilizações Ocidentais vários foram os lugares e os períodos de grande florescimento cultural. (ALMEIDA, 2007, p.52).
           
Este olhar europeizado convergente ao negro perpetrou no solo piauiense, aplicando as mesmas torturas, olhar diferenciado, trabalho compulsório e tantos outros tipos de sociedade detentora do poder, também não poderia ser diferente, os que aqui estiveram eram remanescentes dos primeiros que chegaram ao Brasil e não fugiam do adágio popular “damos aquilo que temos”. 
            Embora, a presença humana, seja notória no espaço geográfico que forma o estado do Piauí, através da simbologia da arte parental, na região sudeste do Estado, especificamente na cidade de São Raimundo Nonato, e cidades circunvizinhas, somente ocorrem à presença do homem branco pós a restauração do domínio português (1640).

O Piauí teve seu povoamento através da instalação das fazendas de gado, o negro chegou junto com os primeiros criadores. Por volta de 1674, Domingos Afonso Sertão amplia seus domínios até as terras que seriam mais tarde definidas como Piauí. Transfere algumas fazendas de gado e instala o vaqueiro negro, que com essa nova atividade e estrutura produtiva inicia outra experiência de trabalho a mão de obra negra na montagem das fazendas de gado. (MOTT, 1998, p. 34).
Por volta de 1697, o Pe. Miguel de Carvalho publicou uma produção textual, intitulada Descrição do Sertão do Piauí, elencado de forma minuciosa, 129 fazendas, com seus respectivos proprietários, número de pessoas, inclusive os negros existentes em cada agremiação.
Em 1993, Pe. Cláudio Melo, faz uma nova publicação do documento apresentando comentários, oportunizando novas interpretações sobre o tema.  “O grupamento das fazendas sempre com referências a rios, riachos, lagoas e olhos d’água era a forma usual numa época em que nem havia demarcação nem as fazendas tinham limites definidos”. (PE. CLÀUDIO, 1993, p.13).
Ressalta ainda Pe. Cláudio Melo (1991) segundo a releitura feita do Trabalho do Pe. Miguel de Carvalho, moravam nas 129 fazendas do Sertão do Piauí, 441 pessoas entre brancos, negros, índios, mulatos e mestiços.
Convém ressaltar que o número existente corresponde às pessoas que haviam recebido o Sacramento do Batismo e muito raro do matrimonio, daí entende que existia os que não se enquadravam na clandestinidade religiosa, daí não serem citados.
Segundo, Mons. Chaves (1998) os escravos negros entraram no Piauí pela estrada que ligava a feira de gado de Capoame, na Bahia, a Vila da Mocha no Piauí, afirmando também “... geralmente, nas fazendas e sítios piauienses o vaqueiro era ajudado, nos seus trabalhos por negros escravos”. 

Como em todo Brasil, podemos distinguir bem nítidas, na vida do escravo negro, duas fases. Uma primeira em que imperou, com certa ênfase, o regime de ferro e fogo, como os castigos mais violentos e mais fortes, com o abandono dos doentes e dos velhos... A segunda fase, menos árdua e violenta, com tratamento mais cuidadoso aos escravos, é o que se segue ao ano de 1850, quando medidas muito sérias começam a ser tomadas para o cumprimento da Lei de 1831, que extinguiria o trafico no Brasil. (CHAVES, 1998, p. 37).

O próprio Monsenhor Chaves chama atenção quanto à forma que era tratado o escravo, a lei existia, porém o dono do escravo era quem fazia a lei ou fazia “vista grossa” para com a aplicação da própria lei, numa terá distante, o querer se transformava em prazer e o escravo era quem recebia as penalidades, neste período houve muito tronco, muita gargalheira, muito escravo castigado.A presença do africano escravizado na terra piauiense foi uma constante, foram, homens, mulheres, jovens e crianças que aqui chegaram e logo eram encaminhados para os engenhos para aplicar a força num labor diário.

O regime escravista no Piauí não foi implantado levando em consideração somente o aspecto puramente econômico. A estrutura da produção pecuária e de subsistência poderia existir sem que se necessitasse recorrer a esta forma de trabalho compulsório, mas o fazendeiro tinha uma ideologia calcada dentro do sistema mercantilista cujo objetivo central era a acumulação de riquezas. (SANTOS, 2009, p. 94).

Foi neste cenário de aptidão e sujeição que o trabalho escravo era realizado no Piauí, contudo o escravo procurou externar seu cotidiano vivenciado em outros engenhos ou fazendas. Tudo que fazia era diferente ou causava a diferença e até certo ponto exótico que misturado ao erótico se transformava em profano, mas no cômputo geral, atingia o sagrado numa simbiose entre o querer do patrão e fazer do escravo.

O trabalho no engelho exigia uma considerável equipe de trabalhadores com diferentes habilidades: mestres de açúcar, caldeireiros, escudeiros, purgadores, entre outros. As funções que exigiam maior habilidade, também eram ocupadas por escravos e a tendência era o emprego exclusivo deles nas tarefas mais delicadas. (FARIA, 2010, p. 16).

Segundo, Solimar Oliveira, no seu livro Braço Forte, aborda o trabalho escravo nas fazendas da nação Piauí (1822-1871) aqui não era diferente dos demais, começava muito cedo, sem diferença de sexo, em geral, tinha inicio nas criatórias a partir dos seis anos de idade ao ocuparem-se em função pastoris complexas. (LIMA, 2005).
Percebe-se que neste intermeio, entre o trabalho forçado, e a senzala, o africano conseguia deixar rastro de sua cultura, absorvida pelos membros da fazenda, já que os senhores eram mais preocupados com a ganancia advinda da produção e multiplicação da espécie humana, saciando a libido de forma inescrupulosa.

Maria, trabalhadora, escravizada da inspeção de Nazaré, que estava nos campos peando cavalo e poldros, semeando e colhendo o alimento do dia a dia. A trabalhadora era nascida e crescida numa fazenda onde os machos pareciam mais fortes e as fêmeas, mais graciosas. Maria, sem marido nem parceiro e com pouco mais de idade de uma criança, ficou “barriguda”. Quem sabe tenha perdido a virgindade e ficado grávida entre caricias de mãos calejadas em encontros apaixonados, quiçá fora vítima de abusos sexuais, oprimida e violentada. (LIMA, 2005, p. 39).
Era uma rotina, Maria quantas outras marias, franciscas, terezas, ou mesmo conceição, tiveram este mesmo destino e ainda tinham que suportar as grosserias do Senhor da fazenda e os olhos cavernosos da patroa. Os rebentos destas conveniências cresciam e também se reproduziam, tornado o cotidiano uma evidência da própria vida. Todavia, o proprietário da fazenda criava um perfil religioso, obrigando mais para a Igreja o testemunho de fé através dos sacramentos especificamente o Batismo conforme o texto:

Em Oeiras, segundo os registros paroquiais de 1833/1835 celebraram-se 590 batizados de crianças livres e 198 de crianças escravas. Destas somente 11os pais eram casados. Cento e oitenta e sete crianças escravas foram conduzidas pelas mães solteiras. (FALCI, 1991, p. 15).

A crescente taxa de procriação das mulheres negras, resultante das senzalas, ou fora dela, deu margem a proliferação da população com traços bem fortes dos ancestrais oriundos da África ou remanescentes.
Todo este contingente populacional absorveu através da memória, os hábitos e costumes, lendas, crenças, mandingas e religiosidade, bem como, as danças e culinária. Tudo ocorria tão normal que se tornava cotidiano para os próprios escravos, mesmo aglutinados na vastidão da terra estranha, pareciam perlongar os terreiros dos casebres para o seu sim. Naquele espaço, meninas e meninos misturaram a outras crianças do mesmo tope para externar suas angústias ou mesmo um gesto fraterno amenizar os suplícios que lhe organizavam durante o dia. Enquanto os adultos e idosos se viraram em danças e rezas para entender o porquê de tanto suplício na terra alheia. O tronco, a marca de ferro, as torturas psicológicas, se imbricava com o tinis das correntes, grilhões e a famosa gargalheira.

Em outras ocasiões ficavam quistos sentados sobre esteiras, com olhinhos remelados, observando as mães que, em silêncio, fiavam ou cozinhavam. O sossego era quebrado com gritos e choros devido a uma picada de inseto em suas peles desprotegidas pelo rosnar de um cão avesso, a um afago, por um beliscão ou mordida de um irmão mais velho. (LIMA, 2005, p. 67).

Estas situações eram protagonizadas por estas crianças, bem como jovens, velhos e adultos, que faziam parte do mesmo grupo na fazenda.
A migração era constante, ficando mais definida após os meados do século XIX, quando ocorreu a migração interna. Em cada fazenda ia recebendo o negro e este num espaço bem minúsculo de tempo iam se adaptando ao meio porque o destino era sempre o mesmo: senzala, serviço pesado e um novo patrão, os mesmos castigos. Segundo Monsenhor Chaves, o número de escravos nunca foi muito grande no Piauí, até a extinção do tráfico (1850), o número de escravos negros crescia e daí por diante passou a decrescer. Em 1882 em todo Piauí havia 21.691 escravos.

O processo de individualização do trabalhador e de esfacelamento das famílias, iniciado com o Real Fisco e sistematicamente reproduzindo pelo Império, era uma das características do regime escravista nas fazendas, que imprimiu uma dinâmica própria para a reprodução dos trabalhadores escravizados. (LIMA, 2005, p. 52).

Era alto o índice de morte entre os negros na Capitania do Piauí, a maioria ocasionado pelos maus tratos físicos e sociais, era bem rústico o local destinado para dormir, e as vestimentas mal cobriam o necessário. Todo esse desconforto provocava uma falta de apego ao gosto estético corporal, não se preocupando com o que era propicio ou não para o bem estar físico e social. Pelo contrário, desejavam as moléstias para terem algum descanso. 

O poder público sempre foi profundamente apático e insensível ao problema de elemento servil. Quando em todo país este problema empolgava todo mundo e procurava-se ver no escravo, um ser humano, as autoridades municipais, da capital do Piauí (Teresina) numa insensibilidade revoltante, ainda persistia em equiparar os escravos aos animais de carga, colocando-os no mesmo pé de igualdade, humilhando-os publicamente. (CHAVES, 1998, p. 199-200).
           
O tratamento dispensado ao negro não se restringia a Teresina, noticias apontam outros municípios. Segundo, Reinaldo Coutinho, no seu livro Antiguidade Valenciana (2000) na zuna rural da então Vila de Valença, por volta de 1880 no povoado Isidória, vivia uma negra escrava que era “gaga” de nome Maria Conga. Certo dia desobedeceu às ordens do seu Senhor e por isso foi sentenciada a ser acorrentada a um enorme tronco, foi solta somente no dia do falecimento de seu Senhor, porque existia um ritual local que todos os escravos teriam que beijar os pés do Senhor ou de qualquer membro da família por ocasião de óbito. No caso de Maria Conga, se recusou fazer tal ritual daí ter voltado para o tronco saindo apenas quando ocorreu a Abolição em 1888.
Na região de Valença, as atrocidades eram frequentes. No mesmo livro que faz referência a escrava Maria Conga, Reinaldo Coutinho (2000) também alude sobre o proprietário da Fazenda Serra Negra, Capitão Luís Carlos Pereira de Abreu Bacelar.

O potentado teria se irritado com uma velha escrava negra. Como castigo, o cruel latifundiário teria mandado serrar viva a infeliz mulher. As tradições sobre as crueldades, de Luís Carlos são macabras. Na Fazenda Serra Negra, havia um curral de pedra que abrigava onças, onde o cruel fazendeiro mandava jogar os desafetos e os escravos rebeldes. (COUTINHO, 2000, p. 54-55).

O tratamento com o negro em Valença (PI) não resume apenas nestas duas referências. No Acervo Museológico da Secretaria Municipal de Cultura, existe uma corrente e uma gargalheira de ferro, encontradas nos escombros da Casa Grande da Fazenda Tapera, propriedade do Major Antônio José Leite Pereira. Noticias também se aglomeram dando vida ao passado recente abordando a presença do negro, nas várias fazendas do Piauí. 
Nomes como Esperança Garcia, Sabina, Manoel Conrado, povoam a memória dos mais velhos, enquanto novas histórias solidificam nas publicações escritas. Quanto à escrava negra, Esperança Garcia, que teve a coragem de denunciar ao Rei os maus tratos que lhe eram atribuídos através de uma carta. Sabina, na região de Aroazes morreu de fome e sede porque desobedeceu ao seu proprietário. Manoel Conrado, no Sítio da Barra, zona rural de Valença – PI tinha como castigo limpar a “levada do Rio Tranqueira” à noite quando praticava alguma infração no referido Sítio, mesmo sendo Manoel Conrado, um negro de confiança do Sítio Barra onde morava. Tantas outras informações também povoavam a mentalidade do povo piauiense, sendo que cada história, tem seu espaço geográfico tampo psicológico e cronológico, bem como seus protagonistas. Nada mais convincente de que a História de Negra Mariana da Fazenda Riacho Barnabé, zona rural de Valença do Piauí, que num momento de agonia socorreu a patroa, Sra., Joana Barbosa Lima em troca de umas velas em seu sepulcro, ou mesmo Luiza Caburé, da Fazenda Barra, que procriava do patrão por obrigação e por amor, de seu companheiro de Senzala, Manoel Conrado.
A história de um povo é contada através das fotos e acontecimentos protagonizados pelo próprio povo. Não existe história melhor, como também história pior, no cômputo geral existe a história, que por mais objetiva que seja é sempre contada pelo ângulo de quem escreve e com o negro escravizado no Piauí, não foi diferente. Neste espaço geográfico onde está fincando a terra piauiense, o negro escravo contribui muito para alcançar o desenvolvimento através de sua força muscular, do repertório cultural nato ou adquirido por onde passou antes de chegar à terra piauiense ou mesmo de forma anônima também contribuiu para construção da própria história.
As referências sobre o negro escravo no Piauí, são bem mais amplas o que ocorre é ainda um número de pesquisadores muito resumindo para trabalhar a temática.
E como diz a Professora Ivete Almeida no seu texto, Etnia, Cultura e Identidade, “nenhum grupo sofreu tão intensamente a separação e foi tão brutalmente obrigado a reconstruir sua leitura sobre si própria e sobre seu lugar no mundo como os povos negros”.

CONCLUSÃO

A história de um povo é contada através dos fatos e acontecimentos protagonizados pelo próprio povo. Não existe história melhor, como também história pior, no computo geral existe história, que por mais objetiva que seja é sempre contada pelo ângulo de quem escreve. Com o negro escravizado no Piauí, não foi diferente. Ele contribui muito para alcançar seu espaço mesmo tendo que suportar maus tratos físicos, psicológicos por parte de seus proprietários e sufocar o eco da liberdade. Muitos foram os que foram mutilados e chegaram a óbito, outros tiveram que suportar castigos pesados. Apenas os remanescentes conseguiram ecoar o grito de liberdade que de forma efêmera resumiu-se numa simbologia panteada por um gesto nobre da filha do Imperador do Brasil D. Pedro II. Porém, serviram de base para iniciar a construção da história para a geração em formação que ainda vagueia carregando o antecedente através do peso, da cor e o preconceito advindo dos que ainda não conseguiram suportar os avanços das politicas públicas que tratam do negro no Brasil e que em linha horizontalizada atingiu também o Estado do Piaui.
Percebe-se, portanto, que a história com a sua temática dotada da razão, encontra espaço para registar a importância do negro escravo dentro da historiografia piauiense.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Ivete Batista da Silva. Etnia, Cultura e Identidade.  Texto Básico da Disciplina “Questão racial: Africanidade e Democracia” –Editora Prominas.


CARVALHO, Miguel de.Descrição do sertão do Piauí: comentário e notas de Pe. Claudio Melo. Teresina – Pi. Gráfica Mendes, 1993.


CHAVES, Monsenhor. Obra Completa. Halley S.A. Gráfica Editora – Teresina –Piauí – 1998.


COUTINHO, Reinaldo. Antiguidades Valencianas, Editora Caburé, Caxias-Ma –2000.


D’AMORIM, Eduardo. África, essa Mãe quase desconhecida, Editora FTD S.A- São Paulo – 1997.


FALCI, Miridan Britto Knox. A Criança na Província do Piauí. CEDHAL(Centro de Estudos de Demografia Histórica da América Latina) – Universidade de São Paulo- 1991.


FARIA, Ricardo de Moura.Estudos de História, Administração e economia nos séculos XVI e XVII – Editora FTD S.A – São Paulo -2010.


FLORENTINO, Manolo. A escravidão sem racismo. Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 8 - Nº 91 p 53 – 2013.


LIMA, Solimar Oliveira. Braço Forte,Trabalho escravo nas fazendas da nação Piauí (1822/1871). Passo Fundo: UFP,2005.


MOTT, Luiz.Piauí Colonial: população, economia e sociedade. Teresina: FUNDAC – Coleção Grandes Textos, 2010.


SANTOS, Gervasio, /Kenard Kruel. História do Piauí. Ed. Halley/Zodíaco. Teresina-PI. 2009.