sexta-feira, 27 de abril de 2018

HISTORIA DA COMUNIDADE PAI PEDRO EM VALENÇA DO PIAUÍ


        HISTÓRIA DA COMUNIDADE PAI PEDRO EM VALENÇA DO PIAUÍ


     A cidade de Valença do Piauí, situada na Mesorregião Centro Norte Piauiense, no Território do Vale do Sambito, possui uma área territorial de 1.033 km². É formada por uma zona urbana e a zona rural constituída pelas  comunidades campesinas, dentre as quais uma por nome Pai Pedro, localizada entre os povoados Isidória, Buritizal, Palmeirinha e Cumbe.
      A boa localização geográfica, formada por um solo fértil,  onde os moradores cultivam, cana de açúcar, arroz, milho, feijão e mandioca.
       Vestígios arqueológicos apontam a presença humana há cerca de 7 a 12 mil, conforme a arte parietal existente em abrigos rochosos, próximos ao Arco da Igreja, morro do Pereira e imediações. 
        Passado o período Pré-histórico, a História pontua a existência de antigos moradores na comunidade, atraídos pela existência de brejos, que favoreciam o plantio na entre safra  e a criação de gado.
        Notícias apontam que a comunidade funcionava como um corredor de passagem de transeuntes, e caminhantes, que iam e vinham entre as comunidades circunvizinhas, bem como mangaeiros,  em cujo labor tinham como parada obrigatória o local para  compra ou mesmo, a comercialização de seus produtos. Outros paravam, mais para descansar das longas jornadas.
         Por volta de 1910, o Sr. Pedro Dias, oriundo da Ribeira de Picos-PI, atual cidade de Santana, numa viagem de negócios para localidade Coroatá, atual cidade de Elesbão Veloso-PI, hospedou-se na residência do seu irmão João Dias, que morava na comunidade Brejo, atual Pai Pedro. A escolha foi feita pelos laços familiares, e tambem, para conversarem ou mesmo  para repouso da cansada viagem. Quando isso acontecia, era uma festa, primeiro por rever familiares, segundo pelas notícias de familiares e outros temas afins. Neste dia foi diferente, a conversa entre os dois e a família do Brejo se prolongou por muitas horas. Nem mesmo o canto rouco da coruja, e o canto estridente do galo, foram suficientes para anunciar que já passavam de meia noite.
           Assuntos não faltavam, uma história puxava outra, mas o Sr. João Dias, anunciou que ia se recolher para dormir os demais  membros da familia que ali estavam,  seguiram o patriarca.
            No romper da aurora, o Sr. Pedro, levantou-se, fez suas orações matutinas e rumbeia com destino a roça do brejo, onde pastavam seus animais. Seu irmão, João Dias, deu notícia do levantar do hóspede irmão, pelo ranger da porta quando esta foi aberta e também pelo latido consistente dos cachorros, anunciando sua saída rumo a roça do brejo para buscar os animais.
               O Sr. João Dias, não se preocupou, uma vez que, antes de dormirem, quando ainda conversavam na sala de frente, Pedro Dias, havia falado que na primeira barra do dia, ia buscar os animais e prepara-los para seguir viagem rumo ao Coroatá.
         A natureza já dava conta que o dia já estava amanhecendo, pelo canto das casacas, dos coquis e de tantas aves campesinas que saúdam o amanhecer. O Sr. João Dias e familiares, já estavam de pé. Sua esposa nos preparativos do café da manhã, naquele dia, seria um cardápio diferente, pois   sentaria a mesa com eles  um membro muito querido da família, Pedro Dias, o irmão mais velho.
         As horas  passavam, o Sr. João Dias, fitava o olhar para o caminho, e nem sinal de Pedro. O irmão achava esquisito tanta demora. Não suportando mais, resolveu ir ao encontro, chamou um de seus trabalhadores e seguiram para saber o que havia acontecido. Para sua surpresa, ainda numa distância aproximada de uns 30 metros, bem na curva do caminho, onde existia uma antiga  mangueira, Pedro Dias estava caído no chão, como se estivesse tropeçado nas raízes expostas da antiga árvore. Pedro Dias, já estava sem vida. Para seu irmão, foi uma surpresa tamanha. Trêmulo e sem alento, pede ao trabalhador que havia lhe acompanhado para retornar até sua residência e comunicar o ocorrido a esposa, aos demais familiares e vizinhos próximos
          O velório, foi realizado na residência do Sr. João Dias e como não tinha como levar o corpo para Santana, Pedro Dias, foi sepultado, na própria comunidade Brejo.
          A notícia se espalhou pela comunidade e circunvizinhança, porem seus familiares que residiam em Santana,  vieram apenas para visita de sétimo dia, mas anualmente seus netos, vinham visitar sua cova. E como em vida, chamavam o avô de Pai Pedro, quando se reuniam para planejar a viagem, era comum dizerem:   -- Vamos ao Brejo, visitar a cova do Pai Pedro, ou mesmo quando chegavam, na residência do Sr. João Dias, formulavam o mesmo convite: -- vamos visitar a cova do Pai Pedro ou mesmo, os moradores sempre que tocavam no assunto, faziam alusão a cova do Pai Pedro, seja quando visitavam também o campo santo, ou nas conversas sobre como tinha ocorrido a transcendência do ancião.  Assim, o nome Pai Pedro, foi se tornando popular e  referência para codinominar a comunidade Brejo, cujo espaço, passou ser conhecido em toda região e em documentos oficiais, como Pai Pedro.
          A localidade, possui uma beleza impar, formada por  paisagem exuberante, um solo fértil, um povo ordeiro e trabalhador, onde desenvolvem atividades agrícolas. Um relevo, formado por vales, onde se localizam os brejos com um numero bastante acentuado da palmeira buriti, bem como, muitas formações geológicas do estilo cabeça, cujos contornos foram moldados ao longo do tempo através da erosão eólica e pluvial, bem típicas da região central do Piauí, onde predomina o relevo conhecido por “Cuestas do Centro”.
          Nos grandes paredões de pedras, são encontradas muitas formações que receberam nomes populares como: Arco da Igreja, Pedra do Papagaio, Dedo de Deus, Pedra do Vigilante, além de outras formações onde existem pinturas rupestres, dentre elas, a Caverna do Cururu.
     Outros grandes atrativos, estão no Morro do Pereira, uma formação rochosa com mais de 30 metros de altura, onde existem vários  abrigos e um painel com varias pinturas rupestres na cor vermelha, conhecido por Abrigo das Ovelhas, o Poço do Cágado, onde existe as nascentes do riacho que corta o brejo.
       O Morro do Pereira, é cheio de mistérios e lendas, muitas delas com conotação  do sobrenatural, onde o povo da ufologia acredita  ser um local propício para pouso de disco voadores.
        Atrativos é que não faltam na comunidade Pai Pedro, a Pedra da Curva tem várias pinturas rupestres, a Serra da Prata, conhecida por sua exuberância, bem como as lendas e mistérios que povoam o imaginário popular, além de possuir  reserva de salitre, tanto que o Sr. Saló, grande artesão de foguetes e similares em Valença, vinha pegar esta matéria prima para confeccionar fogos, bombas, traques, e tantos outros artefatos. O pontal da Serra da Prata, servia de base para pouso de helicópteros dos americanos, quando estiveram em Valença, nos anos 1950, realizando  pesquisas geodésicas.
       O patrimônio material e imaterial da comunidade Pai Pedro, é bastante eclético. O primeiro formado pelas construções de pedras e tijolos, como a casa do Sr Jose Cipriano Barbosa, que existe há mais de um século, cujo mobiliário rústico, confeccionado por artesãos anônimos, resistem ao tempo para servir de base para se contar a História. São Baus, malas, camas cobertas de couro de boi, arados, pilões,  mesas, cadeiras,  bancos, prensas, gamelas e oratórios dedicados aos santos de devoções. Quanto ao patrimônio imaterial,  as referencias estão atreladas ao Morro do Pereira, a lenda do Galo no Arco da Igreja,  e ao Gritador, as bolas e rodas de fogo que aparecem nas noites escuras de verão.
       A comunidade Pai Pedro, destaca-se pela religiosidade desde os mais antigos moradores através dos novenários dedicados aos Santos de devoção, dentre eles podemos citar o festejo de São Sebastião, realizado por Dona Francisca Rosa de Sousa, anualmente, no mês de janeiro, cuja devoção serviu de base para que esta comunidade se mantivesse na fé.
        Atualmente, a comunidade se ufana por ter, oriundo dela um diácono permanente,  Evandro Sousa, cujo trabalho tem servido de referencia para outras comunidades de igual porte que se irmanam para propagação e manutenção da fé.

                      Valença do Piauí, 28 de abril de 2018
                                    Texto: Prof. Antonio Jose Mambenga
                                          Especialista em História do Brasil