HISTÓRIA DE VIDA: DONA ZORAÍDE E SR. LUÍS CARLOS
A vida se torna importante quando acreditamos que somos
capazes de construir nossa própria História dentro dos espaços que nos são
confiados, daí ser necessário acreditar em Deus e saber entremear o destino
diante dos homens e mulheres de boa vontade.
A cidade de Valença do Piauí, guarda no seu acervo histórico
cultural, grandes referências, muitas das quais permanecem ainda no anonimato
pelas limitações da própria vida. Porém, outras à medida que o tempo vai
passando vão surgindo e se tornando públicas pela importância que tem diante da
cidade, do bairro ou mesmo da própria rua ou comunidade onde residem.
Vários bairros formam o espaço urbano de nossa cidade, mas o
bairro Bela – Flor, o Sítio Veneza, o bairro Amando Lima, a comunidade
Oiticica, e as comunidades: Alto Alegre, em Aroazes e Canabravinha na região de
Brejo Grande, na zona rural de São Miguel do Tapuio, serviram de cenário,
dentre outros espaços geográficos para contarmos a História do casal Zoraíde
Pereira da Silva e Luís Carlos da Silva.
Foi no final da década de 1930, quando a região Nordeste
tentava se adaptar ao estilo gestor do coronelismo e o Piauí tentar superar a
queda financeira do ciclo da maniçoba, na madrugada de uma sexta-feira, às 5
horas da manhã do dia 11 de junho de 1938, na Fazenda Alto Alegre zona rural da
cidade de Valença, atualmente pertencente ao município de Aroazes - PI nasceu
Luís Carlos da Silva, filho da Senhora Maria Raimunda do Espírito Santo e do
Senhor Luís Carlos da Silva, sob os cuidados da parteira da região mais
conhecida por Mãe Nicota.
Luís Carlos teve o privilégio de nascer com saúde. A parteira
ao cortar seu umbigo, enrolou num pedaço de pano e fez as recomendações para a
mãe do recém nascido como deveria proceder, quando o umbigo caísse, uma vez que existia um ritual
para ser seguido, bem como as normas do primeiro banho que ocorreu numa cuia
grande, com metais e ervas silvestres para que nada interrompesse o destino da
criança.
Assim foi feito, e o menino Luís Carlos, criou-se sob a
proteção Divina e os cuidados da família.
Luís Carlos teve cinco irmãos: Virgílio, Francisca, Luzia, Antônio e José Tucum.
Na fazenda Alto Alegre, Luís Carlos, migrou para Valença,
ainda bem criança, mal tinha nascido os primeiros dentes e ainda caminhando com
dificuldades, em dezembro de 1939, a família, a convite do Coronel Norbertim,
veio para Valença, prestar serviços no Sítio Veneza, onde deram continuidade a vida, trabalhando e
ensinando os filhos trabalharem conforme a condição física de cada um.
No começo, antes dos
sete anos Luís Carlos, já servia para olhar o plantio de arroz ou de outros legumes, como milho, feijão, para
evitar que os passarinhos silvestres destruíssem. Semear legumes, catar caju,
manga e buriti, fazia parte de sua vida infantil, mas Luís Carlos, gostava mesmo era do período
das moagens, porque achava bonito o ranger das moendas e a maneira como os bois
eram tocados, chegando a exercer esta função por alguns instantes mesmo sem o
consentimento dos pais.
À medida que o tempo foi passando o serviço braçal lhe
esperava como se fosse ocasionado pelo destino, mas a infância não lhe foi
tragada, porque juntamente com seus irmãos encontrava tempo para caçar
passarinho utilizando baladeira, pescar nas levadas, banhar nos poços mais profundos,
mesmo correndo o risco de ser captado pelo sucuruiú grande que diziam que
existia entre o sítio Valentim até a confluência do rio Tranqueira no Sambito.
O menino Luís Carlos, armava mundeu para pegar preá ou
rabudo, para comer assados no espeto ou mesmo na boca da fornalha. Comer rapadura
quente era a coisa mais normal, mesmo
que a noite tivesse que beber chá de cinza para poder dormir. Beber garapa com
limão não existia coisa melhor, mas uma enxada, mesmo pequena devido sua
estrutura física lhe esperava, até que tornou-se seu instrumento de trabalho antes mesmo de completar 10 anos,
uma vez que o pai precisava da ajuda dos filhos para cumprir as metas
determinadas pelo patrão.
Em 1945, com sete anos foi matriculado no Grupo Escolar
Cônego Acylino, para receber a instrução letrada. Foi aluno das professoras:
Liduína Marreiros, Carmina Melão, Laura, Graci Veloso, Maria Campos, numa sala
onde também estudavam seus irmãos, mas Luís Carlos, na maioria das vezes,
preferia ficar, deitado debaixo de uma enorme mangueira do sítio Veneza, do que
chegar até a sala de aula do Grupo Escolar Cônego Acylino, ou mesmo quando
chegava mais próximo aproveitava o micro clima do cajueiro do Melão, árvore
frondosa de cajus suculentos que ficava em frente o Grupo Escolar onde tinha
que frequentar para aprender a ler e escrever e contar. O tempo foi passando, o
menino Luiz Carlos, a cada dia, perdendo o gosto, de frequentar a escola, mas o período que passou frequentando a
escola, foi suficiente para aprender o
suficiente para manejar a vida letrada e exercer a cidadania.
Um fato interessante aconteceu. Até o período que estudou no Cônego Acylino ,
se chamava Luís Gonzaga, mas com a eclosão do sanfoneiro, Luís Gonzaga, Rei do
Baião, que conquistou o gosto popular, o menino Luís Gonzaga, que nasceu no
Alto Alegre, se batizou na Igreja do
Olha d’água dos Milagres, que teve como madrinha, a Divina Santa Cruz e como
padrinho, o senhor Jeremias Pereira da Silva, substituiu o nome de Luiz Gonzaga,
para Luiz Carlos. Neste caso o Luíz
Gonzaga, virou Luíz Carlos, tanto que a própria Professora Liduína Marreiros,
quando o encontrava, cumprimentava como
Luiz Gonzaga e não como Luiz Carlos. O certo, é que atualmente, conserva o nome
Luiz Carlos.
A infância passou. As lembranças dos bons tempos passaram,
porém a memória acusa, os jogos de bola no Largo da Bela Flor, mesmo tendo que
enfrentar o areial existente, mas como a bola era dos filhos do Sr. Armando
Veloso, principalmente os da mesma faixa etária: Iran, Arí, e também Netim e o Edilson de “Seu Clóvis Veloso”, mesmo oriundos de uma classe social alta, no
esporte se irmanavam no jogo de futebol. Os meninos do Largo da Bela Flor, até
poderiam fazer gol e ganharem a partida. Dentre estes meninos estava Luiz
Carlos.
O tempo passou, a metamorfose ocorreu, o jovem Luís Carlos,
precisou encarar a vida com mais maturidade. Ainda bem jovem, prestou serviço
como botador de água em ancoretas sob o lombo de jumento, para casa dos ricos.
As ancoretas eram confeccionadas pelos Sr. Manoel Apolinário, esposo de Mãe
Ana. Nos intervalos, prestava serviço como botador de lenha, também para casa
dos ricos, mas alimentava o sonho de uma vida diferente. Quando ia na casa do
Sr. Manoel Apolinário, “Seu Didito, pai do Eustásio”, Antônio Preto, pai do
Claudio Mambenga, mestre Acelino, Mestrim Ferreira, Manoel Mambenga, Zé
Ferreira, Zé Tenório, Zé Dandá, despertava interesse em trabalhar com madeira,
exercendo pelo menos a função de caripina, até que um dia soube que um senhor
ia viajar para o Maranhão e colocou um serrote a venda, Luís Carlos, tinha umas
economias e comprou o serrote, por vinte contos de réis, só não recorda muito
bem o nome do vendedor, se foi o Antônio Félix ou se foi o Chico Leônidas,
filho do Velho Leônidas, moradores no Largo da Bela Flor.
O certo é que o serrote foi a base para se transformar e se
tornar referência entre os bons
serradores de madeira na cidade de Valença do Piauí, cujas orientações
primeiras foram dadas por Antônio Preto e seu filho primogênito Claudio
Mambenga.
Ainda sobre a juventude de Luís Carlos, a memória acusa, os
reisados organizados pelo pai do Bodim, Senhor Joaquim Quitéria e sua esposa
Dona Maria Evangelina da Luz, especificamente do conflito travado no Beco da
Amargura, entre os membros do reisado e os rapazes da elite que moravam na
Praça Jose Martins e circunvizinhança, às vezes o boi saía as 8 da noite do
Largo da Bela – Flor e só conseguia sair do Beco da Amargura, quase meia noite,
devido o conflito entre os dançarinos do reisado que moravam no Largo da Bela
Flor e adjacências. Com os rapazes que moravam na Praça Ze Martins ou mesmo na
Rua do Maranhão. O conflito acontecia da seguinte forma: Os rapazes da elite,
queriam tomar o Boi, soltavam foguetes, traques, bombas e similares. Enquanto
os dançarinos, e demais personagens do Boi, dançavam e protegiam o boi. Bomba
ia, bomba vinha, a pólvora zuava solta. Convém lembrar que tudo funcionava como
brincadeira, mas o grande desejo de um grupo era tomar o boi, enquanto o outro,
a grande defesa, era proteger e ficar com o boi e assim a brincadeira
prolongava por horas a fio. Os foguetes, traques, bombas, eram confeccionadas
pelo exímio artesão de fogos e derivados, Senhor Saló.
O grupo do reisado da Bela-Flor se besuntavam de tabatinga,
para suportar as fagulhas de pólvora, mas tudo isso, Luís Carlos, via e
acompanhava, mas não se sentia insultado para participar da brincadeira,
gostava mesmo era de participar dos forró do Belo, na rua dos imbuzeiros, dos forrós
da Casa de Seu Lucas nas Cacimbas, dos forrós do Adão Pezim, e quando dava
certo, dos bailes do Sonho Azul ou mesmo os da Rural Velha.
Os anos Dourados se passaram, o calendário anunciava novas
“eras”. Luís Carlos, descobriu que já era tempo de encontrar a cara metade. Em
Valença não era tão difícil, mas o coração e os olhos convergiam para uma
jovem, de estatura media, esguia, cabelos feito tranças, pele morena,
trabalhadora, bonita e referência de responsabilidade. Morava na casa do Sr.
Armando Veloso e Dona Rosina, conhecedora das prendas domésticas e educada.
Esta jovem era Zoraide, mas era muito séria, comportada, de poucas palavras,
porque sua vida era sinônimo de trabalho, pois era uma das pessoas responsáveis
pela confecção da cajuína, desde o tempo de Dona Maricas do Sr. Cloves Veloso.
Mas como o amor não tem fronteiras, namoraram e no dia 20 de junho de 1963 na
Igreja de Nossa Senhora do Ó e Conceição, realizaram a celebração do casamento,
cuja benção do Sacramento foi efetuada pelo Reverendo Padre Raimundo Nonato de
Oliveira Marques. Tiveram como testemunhas do Enlace Matrimonial, Claudio Pereira
da Silva Mambenga, Dona Rosina Portela Veloso,
Sr. Francisco Pereira dos Santos .
Do enlace matrimonial, nasceram 9 filhos: Francisco José,
Ilauda Maria, Ivalda Maria, Maria Ivanilde, Evangelista, Francisca Maria,
Francisco Flávio, Maria da Cruz, Francisco Ivanildo. 29 netos: 6 do Zé , 5 da Ilauda, 3 da Ivalda, 1 do Ivanildo, 3 do Evangelista, 4 da
Ivanilde, 4 da Francisca Maria , 1 do Flávio, 2 da Maria da Cruz. 21
bisnetos: 2 do Kito, 1 da Irismaria, 2
da Ionária, 1 da Iranilda, 1 do Ironildo, 1 do Vangim, 2 do Lalá, 2 do Tatá, 1
do Cabeça, 2 do Pepeu, 1 da Iara, 2 da Iane, 1 da Ivânia, 1 do Nildin, 1 do Dunga.
Do ofício de caripina, ainda existem peças confeccionada por
Luiz Carlos, um banco de ofício de carpinteiro, na residência do Sr, Jesus
Mambenga, no Bairro Lavanderia aqui em Valença. A referida peça, foi retirada
no início da década de 1970. de uma árvore
por nome Jatobá de arara, localizado às margens da Estrada que vai para a
comunidade João Pires, próximo a residência de Dona Francisca, matriarca da
família foen.
Neste 20 de junho de 2018, Luíz Carlos e Zoraíde completam 55
anos de vida conjugal e muita felicidade, porque os filhos funcionam com
dádivas de Deus, em cujo labor se concretiza em ver a família criada e o
respeito mútuo que existe entre ambos.
Luíz Carlos, se sente realizado como pai de família, nem
mesmo a idade funciona como obstáculo, porque trabalhar, sem escolher tipo de trabalho
lhe deu o amadurecimento de acreditar, na passagem bíblica que diz: “Tudo posso
naquele que me fortalece”. Completar 80 anos de vida e 55 anos de casado é
momento de agradecer a Deus pela graça de poder todos os dias ser visitados
pelos filhos, netos e bisnetos e sentir de perto as coreografias de Maria
Clara, que na sua inocência, preenche momentos de muita alegria e acima de tudo
a amizade, o respeito recheados de amor e dedicação com sua esposa Zoraíde.
DONA ZORAÍDE
Os caminhos são trilhados por aqueles que encontram coragem
para seguir a trajetória da vida, mesmo sabendo que nada é fácil e nem pronto e
acabado. Cada coisa tem uma razão de ser e existir. Alguns acreditam que o
destino encabeça a vida, outros, entendem que a vida mesmo com as dificuldades
precisa ser vivida.
Em Valença do Piauí, a cidade ainda era governada por um
sistema de governo voltado para a República Velha, mesmo sabendo que novos
paradigmas administrativos eram criados e postos em prática.
A população, grande parte morando na zona rural, a classe
popular que residia na cidade ficava fincada em bairros periféricos na maioria
das vezes, órfãos das benesses dos gestores municipais e praticamente de tudo,
mas sobreviviam com a graça de Deus.
Quando um casal se separava, geralmente a prole ficava com a
mulher, que se via obrigada procurar quem pudesse criar os filhos e os que
ficavam sob seu domínio, eram obrigados a trabalharem muito cedo, para ajudar
no sustento de casa, outros eram entregues a famílias de boa situação que
muitas vezes residindo bem distantes da terra berço.
O Sr. João de Sousa Martins foi doado ao Major Totói,
proprietário da Fazenda Canabravinha, próximo ao Brejo Grande, zona rural do
município de São Miguel do Tapuio – PI, pós a separação dos pais, que eram
moradores do Bairro Cacimbas, mesmo procedentes da região de Inhuma, naquele
período pertencente ao município de Valença.
Na Fazenda Canabravinha, João, foi criado, cresceu, viveu e
casou-se com Maria Raimunda Pereira da Silva. Tiveram filhos dentre eles:
Zoraíde Pereira da Silva que foi a primogênita, mas nasceram também: Josefa.
Jose, Francisco, Raimundo, Manoel, Sebastião, Socorro e Antonio. (uns nasceram
em Canabravinha e os outros em Valença).
Em 1940, dia 13 de junho, nasceu Zoraíde, sob os cuidados da
parteira Maria Patrícia. Seus pais: Senhor João de Sousa Martins e Dona Maria
Raimunda, ficaram muito felizes com o nascimento da filha, seguiram o ritual
típico de época, desde o corte do umbigo pela parteira Maria Patrícia, ao
primeiro banho numa cuia grande, cuja água foi retirada das nascentes do riacho
da Capivara, um dos formadores do Rio São Nicolau, onde comumente era vista a
mãe d’água.
Uma vela de cera de abelha silvestre foi acesa, próximo a um
quadro de Nossa Senhora do Bom Parto, em sinal de agradecimentos pelo
nascimento da filha, cuja tradição tinha base na Casa Grande do Major Totói,
por sua esposa Dona Catarina de Sousa Martins, para anunciar o nascimento de
Zoraíde à comunidade local e adjacente, o Sr. João Martins, seu pai, deu dois
tiros para cima com sua velha espingarda garruncha, para anunciar o nascimento
da filha Zoraíde. Os dois tiros serviam para avisar o nascimento da criança, no
caso de Zoraíde foram dois, porque era menina. É bom lembrar que esta tradição
era muito comum na região. Caso fosse menino seriam três tiros.
Sua mãe, dona Maria Raimunda, foi cuidada, pelas vizinhas
próximas, que não lhe deixaram faltar nada.
A menina Zoraíde, muito cedo recebeu o Sacramento do Batismo,
teve como padrinhos o Senhor Miguel Soares e como Madrinha, Dona Ana de Sousa
Martins, mais conhecida por Dona Sinhazinha, irmão de Dona Ceci.
Dentro do possível estavam ali, seja nos afazeres domésticos
ou para fazer companhia, mas todas tinham muito apego com a pequena Zoraíde,
porque desde pequena já demostrava afinidades com as pessoas, através de
olhares convergentes ou mesmo com esboço de sorrisos, uma criança feliz mesmo
na ingenuidade da infância.
O tempo passou, a menina Zoraíde, adequava-se as realidades
da família ou mesmo tendo que se comportar como a filha do morador da Fazenda
Canabravinha, mas isso não era empecilho, sua infância não foi diferente, cedo
foi aprendendo as prendas domésticas com sua mãe Dona Maria Raimunda, e como
toda criança, o lado infantil, o lado mulher desenvolvia uma sensibilidade indo das brincadeiras de bonecas, mesmo feita de
pano e de forma bem artesanal, mas eram de uma importância tamanha e lhe satisfaziam
o ego a outras brincadeiras típicas de crianças da zona rural.
Uma das coisas que mais gostava era quando acompanhava a mãe
até o riacho Capivara, para buscar água para beber, ou mesmo para lavarem
roupas. Lá ela banhava, subia nas pedras, engolia piabas para aprender a nadar,
balançava nos cipós que se entrelaçavam sobre o leito do riacho, era uma festa,
porque muitas vezes tinha outras crianças que também estavam na companhia das
mães que também estavam na “fonte”
lavando roupas.
A menina Zoraíde, não frequentou escola no período da infância,
na Fazenda Canabravinha, porque não existiam escolas. E em Valença, porque os
pais não se ativaram para tanto, cujas mentes ainda estavam voltadas para um
pensamento que “mulher” principalmente as oriundas da classe popular, não
precisavam estudar. Com isso Zoraíde teve podado o sonho de dominar a leitura e
aguçar o pensamento letrado com o
conhecimento e as limitações impostas pela escola da vida, sabendo conhecer e
repassar os saberes das vivencias do cotidiano em cultura e historias atrelada
no patrimônio imaterial da comunidade onde viveu e vive na atualidade.
Suas memórias de infância se cristalizaram na Casa Grande da
Fazenda Canabravinha, no pátio da Fazenda, onde à tardinha via repleto de bois
e vacas, no aboio do vaqueiro, nas cantigas das brincadeiras de roda, no cantar
do galo anunciando o amanhecer, na ceifa do arroz na várzea, no som das águas
do riacho Capivara, ou mesmo o tropel dos cavalos e latidos dos cachorros
quando se deparavam com coisas ou pessoas estranhas.
Zoraíde lembra muito bem, da casa onde nasceu e morou até 11
anos. Recorda muito dos medos do lobisomem que assombrava a população nas
noites de Lua cheia, quando ouvia o grunido dos cachorros e o canto rouco da
coruja, entendia que algo sobrenatural estava ocorrendo, tal qual como o canto
da “coãn”, pois a crendice popular acreditava que era mau presságios, e para
evitar era necessário fincar um pau no chão.
São estes momentos incríveis que tornam a infância de cada um
muito diferente.
A menina Zoraíde, num certo dia, encontrava-se em casa com
sua mãe, enquanto seu pai havia saído para campear o gado que cuidava, e não
havia chegado ainda, mãe e filha já estavam preocupadas, quando de repente,
ouviram um barulho diferente das galinhas, através de um cacarejo estranho, mas
pensaram que fosse algo não tão sério que estivesse ocorrendo alí por perto e
de proporções menores, mas, mesmo assim Dona Maria Raimunda e Zoraíde, saíram
de ponta de pé em direção a cozinha, onde existia uma janela com frechas bem
acentuadas que dava para ver o que estava acontecendo fora de casa. De repente,
Dona Maria Raimunda olhou em direção ao
chupeiro que ficava a uns dois metros da casa e observou que era uma onça
pintada. Trêmula de medo e quase sem
voz, abraça a filha Zoraíde em sinal de proteção, voltando a cabeça da menina
no sentido contrário para que não pudesse ver o felino, mas no entanto Zoraíde,
já havia visto, e não comunicou e mãe para que esta não se apavorasse.
A situação diante da onça pintada foi apavorante, e o animal,
apenas contornou e ainda entrou na casa pelo outro lado, mas os pedidos de socorro
de Dona Maria Raimunda às divindades conhecidas, que foram das bastantes
conhecidas que já estão há muito tempo no céu, como também às mais conhecidas da terra. Nomes como “Padim Ciço” do Juazeiro, São
Francisco do Canindé, Santa Cruz dos Milagres e tantas outras que juntos
fizeram com que a onça desce meia volta e retornasse para floresta de onde
tinha vindo. Este momento ficou cristalizado na memória da pequena Zoraíde, porque,
naquele momento somente o poder de Deus evitou Dona Raimunda e a filha Zoraíde,
serem atacadas pela onça pintada.
Em 1951, com a morte do Major Totói, a família do Sr. João de
Sousa Martins, deixou a Fazenda Canaravinha, rumou com destino a cidade de
Valença, onde o Sr. João, tinha familiares. Neste período Zoraíde, já tinha 11
anos de idade. A saída e a viagem, não teve tanta diferença da música triste partida
cantada por Luís Gonzaga, com letra de Patativa de Assaré.
As personagens eram
diferentes, as causas da partida, mudança de patrão. Se a família cearense foi
para São Paulo de pau de arara, a família de migrantes da Fazenda Canabravinha,
veio para Valença, caminhando e “tocando” três jumentos, um com os mantimentos,
outro com os mobiliários de casa, quantidade suficiente que cabiam num jogo de
jacás e outro jumento, conduzindo as crianças, também num jogo de jacás, dentre
elas Zoraíde, sozinha num dos jacás, com
uma cuscuzeira de barro, um arguidor pequeno e mais uma pedra que servia de
trempe na antiga morada, no outro jacá, as outras crianças menores. Como na
triste partida dos cearenses, a menina Zoraíde, também esqueceu alguns
brinquedos, simples, mas eram seus brinquedos: uma cumbuca, com alça de embira
de tucum, umas conchas de cipó preto e até mesmo a única boneca de pano
confeccionada pela avó materna, também lá ficou na antiga morada da Fazenda
Canabravinha e para mais coincidência, um pé de jasmim branco, localizado na
frente da rústica casa, o tempo se encarregaria de destruir.
A família seguiu viagem para Valença, “Seu João, Dona Maria
Raimunda, as crianças e mais três caninos, um macho e duas fêmeas, mas serviam
para dar proteção a família que se deslocava para cidade de Valença do Piauí,
em busca de dias melhores.”
A viagem foi longa, os caminhos, estavam mais para veredas,
mal davam para os animais seguirem. Paravam três vezes por dia, para o café da
manhã, beiju com rapadura, o almoço às vezes era preciso se virar com captura
de animais silvestres, neste período eram mais abundantes e não existia
proibições. Às vezes, se viravam com frutas do campo, encontradas nas margens do caminho ou mesmo
com mel de abelha, cuja cera Dona Maria Raimunda aproveitava para fazer velas.
O descanso, era debaixo das árvores, que não fosse de assombração.
Com cinco dias de viagem, chegaram em
Valença, dirigiram-se até as Cacimbas, próximo a casa do Sr. Lucas de Dona
Neguinha, onde morava o senhor Joaquim Nogueira, pai do Pitirã e de João de
Sousa, pai de Zoraíde.
A estadia no Bairro Cacimbas, foi efêmera, de lá rumbearam
para a localidade Passagem do Meio, na região da Santa Rosa, antes da
comunidade Milagre.
Na Passagem do Meio, não conseguiram casa, mas como era
período do estio, se alojaram debaixo de uma frondosa Mangueira, mas cuidadoso
como era o Sr. João, recolheu no Sítio Santa Rosa, umas palhas da Palmeira
buriti e fez algumas divisórias, essenciais, para definir a residência
ecológica, por necessidade e não por modismo como alguns encaram neste mundo
contemporâneo. Pós o verão do mesmo ano, a família de Zoraíde, se mudou
comunidade Taboquinha, também nas proximidades da Santa Rosa. Desta vez, para
uma casa coberta de palha e com divisórias também de palha da palmeira buriti,
também demorou pouco tempo. Receberam um convite do Major Odilo Soares para
irem morar na Oiticica (1952) onde o Sr. João Martins, podia exercer as
atividades agrícolas e também, cuidar do gado da Fazenda. Neste período Zoraíde
já contava com 12 primaveras, o corpo pegava forma, era a transição da
puberdade para adolescência, e extrovertida como era, ajudava e aprendia as
prendas domésticas, bem como ajudava a mãe na ceifa dos legumes principalmente
do arroz, produto de grande referência na comunidade.
O tempo passava de uma forma tão rápida, que as folhinhas do
calendário de parede, mas pareciam voar de que serem retirada individualmente a
cada dia do ano.
Na Oiticica, sob a proteção do Major Odilo Soares, a família
ficou por mais tempo, espaço suficiente de ampliarem o ciclo de amizade a
participar das atividades festivas, sociais e religiosas da comunidade.
A garota Zoraíde, muitas vezes lavou roupa ou tomou banho nas
águas do Olho d’água do Fuxico, momento que recordava os bons momentos que
passou na Fazenda Canabravinha e banhava no olho d’água da Capivara.
O entrosamento com os demais moradores da Oiticica, Zoraíde
era convidada para festas de São João, Rodas de São Gonçalo e a dança do Manuê,
sob a orientação de Zefa Gabriel, principalmente no período da ceifa do arroz.
Em 1955, Zoraíde, já com 15 anos, veio para Valença, prestar
Serviço na residência da Sra. Maria Matias, esposa do Sr. Eudóxio, mas só
passou um dia. Retornou novamente para a comunidade Oiticica, onde passou
alguns meses quando indicada pelo Major Odilo Soares, Zoraíde, veio para
Valença, para trabalhar na residência de Dona Maricas Veloso, esposa do Sr.
Cloves Veloso, situada na rua Mundico Dantas, Centro, onde permaneceu até o ano
de 1957, quando completou 17 anos.
Na residência de Dona Maricas ampliou e aperfeiçoou o
conhecimento na arte culinária, aprendeu noções de boas maneiras e conquistou
outros conhecimentos na confecção da cajuína, cujo labor acompanhado por Dona
Maricas, começava cedo. Nas primeiras horas da manhã, pós preparar o milho no
pilão, se dirigiam até o sítio, onde atual é a roça do Antônio Carlos Cortez,
acompanhando Dona Maricas, para o recolhimento dos cajus, cuja seleção era
feita por Dona Maricas, retornavam rápido porque tinha que cuidar dos outros
afazeres de casa e também da cajuína.
Logo, Zoraíde, conseguiu a graça de Dona Maricas, tornando-se
a responsável pela cozinha, até mesmo o quarto onde Zoraíde dormia, ficava
próximo do dormitório de Dona Maricas, porque podiam precisar de alguma durante a noite, Zoraíde, estava mais próxima
do casal.
Com o passar do tempo,
numa noite de São João, Zoraíde “passa fogo” com Dona Maricas, para ser sua
madrinha, a partir daquele dia, Dona Maricas, ficou sendo Madrinha de fogueira
de Zoraíde.
Além de Zoraíde, outras pessoas também prestavam serviços
para família do Sr. Cloves, a lavadeira de roupa era a Ana Sombrinha, esposa do
Benedito Macaco; o botador de lenha e água, era Luís Carlos, Tereza mãe da
Nuchinha do Manoel Gabriel, cuidava da limpeza da casa.
Zoraíde, era extrovertida, gostava de novidades, mesmo
trabalhando na casa do Sr. Cloves, achou uma proposta de ir trabalhar na casa
de uma família em Fortaleza, e foi. A casa onde trabalhou ficava no Bairro
Assunção, próximo ao Quartel de Polícia Militar. O pessoal com quem Zoraíde
morou era da família do Sr. Jeremias Pereira, Dona Lourdes, nora do Sr.
Jeremias.
Passado um período, Zoraíde, retorna para Valença e foi
trabalhar na casa de Dona Rosina, esposa do Farmacêutico Armando Veloso, cuja
residência ficava em frente a Casa de Dona Maricas Veloso, na rua Mundico
Dantas, onde Zoraíde já havia trabalhado.
Examinada sobre tantas mudanças de serviços, Zoraíde
responde: — Era buscando melhoras,
porque era trabalhando que ajudava sua família, que continuava morando na
Oiticica e enfrentando dificuldades. Sempre que seu pai vinha a Valença,
Zoraíde lhe ajudava de forma pecuniária, nem que fosse pouco, porque também,
não tinha muito, mas tinha aquela preocupação em ajudar a família.
Nunca esqueceu, de um depoimento do seu pai, uma certa vez:
ainda na década de 1950, quando o homem do campo podia se alimentar com animal
silvestre.
Ele conseguiu um tatu, separou uma banda para se alimentar
com a família e a outra, saiu na vizinhança, solicitando trocar a banda de um
tatu por um prato de farinha, e ninguém se dispôs fazer a troca por também não
terem a farinha. Ele voltou para casa e comeram o tatu escoteiro, porque não
tinham nada para misturar. Às vezes acontecia também, de terem a farinha e não
terem a mistura, fato corriqueiro, não só na família do Pai de Dona Zoraíde,
mas em muitas famílias da classe popular da cidade de Valença do Piauí.
O tempo passava de uma forma tão rápida, mas Zoraíde,
conquistava espaço entre os serviços na casa de Dona Maricas do “Seu Cloves”,
na casa da dona Rosina de “Seu Armando Veloso”, as idas de forma espaçosas a
casa de seus pais na Oiticica, que Zoraíde preenchia os espaços da vida. Mas
foi ainda quando morava na casa de Dona Maricas Veloso, que Zoraíde sentiu o
coração bater mais forte quando se deparou com um rapaz, moreno, de altura
mediana, trabalhador, também na casa de seu Cloves Veloso, na condução de
botador de lenha e água, mesmo sendo conhecido de Zoraíde, mas naquele dia foi
diferente: Zoraíde, vinha da Roça do Betel com uma lata de caju na cabeça, fato
corriqueiro na labuta durante a safra de caju. Neste dia, acompanhada de sua
patroa e madrinha de fogo, Maricas Veloso, quando, avistou aquele rapaz, à
margem do caminho. Ela que andava muito rápido e cantarolando em voz baixa,
quando passou próximo, da pessoa que estava a margem do caminho, entusiasmou-se,
a música que cantarolava, tornou-se apenas um balbuciar de voz, quando ouviu a
seguinte proposta: — Me dá um caju!
Zoraíde, mal ouviu o pedido, retrucou, negando-lhe o caju. Mas o rapaz, apenas
esboçou um sorriso e sentiu que aquela resposta, tinha sido apenas da boca para
fora, viu que Zoraíde, diminuiu os passos da caminhada, e de repente, uma das
mãos vai até o rosto e enxuga o suor. O rapaz que estava na margem do caminho e
solicitou o caju, era Luís Carlos.
Naquele momento, Luís Carlos sentiu que o cupido flechou seu
coração, Zoraíde, também sentiu o mesmo, mas para os padrões de época, moça não
poderia ser atirada, tinha que ser comportada, além do mais, trabalhava na casa
de Dona Maricas de “Seu Cloves”, tinha que manter o conservadorismo da família
onde trabalhava.
O tempo passou, Luís e Zoraíde, se aproximam e fixaram
namoro.
O casamento, não ocorreu de imediato, somente em 1963 quando
Zoraíde, já estava trabalhando na casa de Dona Rosina do Sr. Armando Veloso, no
dia 20 de junho é que ocorre a celebração do matrimônio, na Igreja de Nossa
Senhora do Ó e Conceição, cuja benção do Sacramento foi efetuado pelo
Reverendíssimo Pe. Raimundo Nonato de Oliveira Marques. Teve como testemunhas,
o Sr. Armando e Dona Rosina Veloso, Dona Dalva Lima Verde e se esposo João
Calado.
A celebração, ocorreu no turno da manhã, estava marcada para
as 10:00 hs, mas ocorreu um imprevisto, no mesmo dia do casamento, Dona Rosina
Veloso, estava esperando visita em casa, uma senhora que vinha para ser
madrinha de Crisma de sua filha Cleide, cujo Sacramento seria no dia seguinte,
e Zoraíde, atrasou para chegar na Igreja, havia combinado com uma pessoa
conhecida sua que morava nas Cacimbas para lhe ajudar fazer o almoço na Casa de Dona Rosina,
naquele dia por ser o dia que ia se casar e o Padre Marques era muito pontual
nas horas. Acontece, que a pessoa das Cacimbas, por nome Maria, não compareceu,
e Zoraíde, teve que fazer o almoço sozinha, o que levou Zoraíde, atrasar uma
hora, mas mesmo assim, foi para Igreja.
Luís Carlos, seu noivo, já estava com os nervos a flor da
pele, os convidados de igual forma, mas como o Senhor Armando e Dona Rosina,
sabendo da sobrecarga de serviço que Zoraíde estava fazendo, conversaram com o
Padre Marques e este foi sensível ao atraso gigantesco de Zoraíde; Quando de
repente, alguém avisa, a noiva apontou na esquina da casa do Senhor Chimba, o
noivo Luís Carlos, esfregou as mãos uma na outra, pegou o lenço do bolso da
calça e enxugou o suor. Era Zoraíde, que se aproxima, vestida de noiva e o
coração quase para sair pela boca, primeiro pela emoção do casamento, segundo
pelo atraso e o que o Padre Marques, iria dizer, mas mais forte que tudo era o
amor que sentia por Luís Carlos e sentia que Luís Carlos lhe correspondia.
Os convidados se aproximaram, o Padre Marques, os noivos
iniciaram o ritual do casamento sob a condução e bênção Sacramental do Pe.
Marques.
Após o casamento, todos se dirigiram para a casa do Virgílio,
irmão de Luís Carlos, onde ocorreu um farto café com bolo para os convidados.
- A vida de casada, lhe deu oportunidade de viver e encarar a
vida por outro ângulo, primeiro por ter escolhido um marido bom, trabalhador e
amigo. As dificuldades surgiram, mas foram superadas, Zoraíde, que havia sido
criada, trabalhando em afazeres domésticos, teve que enfrentar outros tipos de
trabalho como o de raspar mandioca, nas farinhadas tanto no Sítio Veneza como
no São Camilo, propriedade da Família Martins e como nas farinhadas o serviço
já era dividido, cada trabalhadora ficava responsável por duas cargas de
mandioca diariamente, Zoraíde, tinha a ajuda do esposo Luís Carlos e terminava
cedo o serviço, inclusive do lavado de massa, para apurar a tapioca.
No período das margens, comparecia ao engenho (moenda), onde
além de deliciar uma saborosa garapa, tirava alfinim e comia rapadura quente.
Muitas vezes, trabalhava na ceifa de legumes na região, uma
certa vez, indo para a comunidade João Pires, tocando uma carga de jumento com
um jogo de jacá, cheio de meninos, dois em cada jacá e um sentado no meio do
cangalho, quando, iam se aproximando da casa do João Luzia, lá na ovelha morta,
percebeu que vinha uns vaqueiros tocando uns bois valentes, alguns estavam
encarretados, Zoraíde se aperreou com medo de ser atingida pelos bois, as
crianças enquanto umas gritavam outros choravam de medo, o jumento emperrou
como também estivesse com medo, logo era perto da casa do João Luzia, onde
aparecia mamparra (não entendi essa palavra), quando um dos vaqueiros percebeu
a luta dela, reconheceu que era Zoraíde e pediu que ela se acalmasse.
O vaqueiro era o “Ciço Ferrer”, que logo encontrou uma
alternativa para Zoraíde e as crianças nos fossem atingidas pelos bois
valentes. Zoraíde agradeceu e seguiu viagem rumo ao João Pires onde ia
trabalhar na ceifa do arroz.
Zoraíde, é uma pessoa temente a Deus, é católica, segue os
dogmas da Igreja e participa dos Festejos de Nossa Senhora do Ó, Divino, São
Benedito, e Semana Santa, inclusive jejuando.
É devota de São Francisco do Canindé e de Santa Cruz dos
Milagres. Embora só tenha ido uma vez, no Canindé, visitar a imagem de São
Francisco, mas desde de 1972 que veste marrom, pagando uma promessa que fez com
São Francisco e recebeu a graça. Lamento muito não ter ido ao Juazeiro, visitar
o “Padim Ciço”, porque iam quando estavam no Canindé e ocorreu o fato de uma
das romeiras, a Zefa Procópio, se desprendeu do grupo e se perdeu no Canindé.
Foi luta para encontrar Zefa Procópio, todos os romeiros de Valença que haviam
ido no pau-de-arara, ficaram preocupados, andaram, viraram e nada de Zefa, já
foi preciso fazerem outras promessas com São Francisco para encontrarem Zefa,
colocaram aviso no serviço de som da Igreja, no rádio, até que um Senhor vinha
da Fazenda, estava ouvindo o rádio e pelas características era Zefa Procópio, já
estava a mais de 5 Km da Igreja. O que dificultou mais encontrarem a Zefa, é
porque quando ela encontrava as pessoas, avisava que estava “ariada” e quando
as pessoas examinavam o endereço ela dizia: — Moro na Rua Padre Silva, perto do
Loreto. O endereço era de Valença e as pessoas estavam era no Canindé. Este
episódio deixou o povo preocupado, razão pela qual não foram a Juazeiro, mas
Dona Zoraíde, ainda tem vontade de ir lá.
O casal, Luís Carlos e Zoraíde, neste ano de 2018, dia 20 de
Junho fizeram 55 anos de união conjugal. Deste casamento nasceram 9 filhos:
Francisco José, Ilauda Maria, Ivalda Maria, Maria Ivanilde, Evangelista,
Francisca Maria, Francisco Flávio, Maria da Cruz, Francisco Ivanildo.
Uma das grandes alegrias de Zoraíde é ver a família criada,
filhos, netos, bisnetos, tetranetos e também outra satisfação é ter criado os
filhos do coração que são muitos. Todos eles preenchem as delícias de sua vida,
cuja felicidade é poder ter a visita de todos que morou próximo e poder
abençoa-los.
“Mãe Zoraíde” como é conhecida, foi uma das primeiras
prestadoras de serviços da Granja Moreira, coisa que se ufana por ver o
crescimento do empreendimento.
Atualmente, passa mais tempo no Sítio Santo Antônio,
propriedade cuidada por seu esposo Luís Carlos, pós o São Camilo, às margens do
Rio Tranqueira.
Zoraíde, mesmo com 78 anos de idade, ainda cuida dos afazeres
domésticos e trata com muito amor de suas descendentes, principalmente Maria
Clara, que é a mais nova da família.
Uma das coisas que Dona Zoraíde gosta é rezar, agradecendo a
Deus pelos bons momentos que lhe foram destinados ao lado de sua família e
ouvir o rádio, liga de manhã cedo quando acorda e só desliga quando vai dormir.
Dona Zoraíde, sua História de vida, lhe dá o direito de dizer
que a Senhora é uma mulher forte, corajosa em síntese uma guerreira. É uma
pessoa muito bem humorada, de dois em dois anos, quando vai exercer sua
cidadania, na 71ª Seção da 18ª Zona Eleitoral, é uma festa quando os mesários,
dizem: -- Dona Zoraíde Pereira da Silva, a pessoa que fecha a Folha de votação.
Ela sorrir e demonstra muita satisfação pela brincadeira.
E como diz Serafim Leite, “....um caminho andado é sempre
auxílio aos caminhos por andar. Conhecimentos adquiridos que ficam como base e
arranque de conhecimentos novos...” Aqui foi apenas um pouco da História do
Casal: Luiz Carlos e Zoraíde Silva, por ocasião do natalício de ambos ocorridos
neste mês de junho de 2018.
Dona Zoraide, fez a transcendência em 19 de novembro de 2022. Seu corpo encontra-se repousando no Campo Santo São Benedito.
Valença do Piauí, 23 de junho de 2018 -.(20/11/2023)
Texto: Prof. Antonio Jose Mambenga
Esp. (lato sensu) em História do Brasil e
História Social da Cultura.
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