FACULDADE DO NOROESTE DE MINAS – FINOM
ANTÔNIO JOSÉ PEREIRA DA SILVA
ENTRE AÇOITES E GRILHÕES, A PRESENÇA DO NEGRO NO CONTEXTO HISTÓRICO DO
PIAUÍ COLONIAL
VALENÇA DO PIAUÍ – PI
2013
FACULDADE DO NOROESTE DE MINAS – FINOM
ANTÔNIO JOSÉ PEREIRA DA SILVA
ENTRE AÇOITES E GRILHÕES, A PRESENÇA DO NEGRO NO CONTEXTO HISTÓRICO DO
PIAUÍ COLONIAL
Artigo Científico encaminhado à Faculdade de Educação
da FINOM, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em História
e Cultura Afro-brasileira.
VALENÇA DO PIAUÍ – PI
2013
ENTRE AÇOITES E GRILHÕES, A PRESENÇA DO
NEGRO NO CONTEXTO HISTÓRICO DO PIAUÍ COLONIAL
Antônio
José Pereirada Silva ¹
RESUMO: A presença do negro na história oficial do Piauí é
muito recente. Em se tratando de tempo, num passado bem recente a presença do
negro no contexto histórico piauiense, não ultrapassava poucas páginas nos livros
didáticos e quando isso acontecia era centrada num olhar europeizado o que
podava um olhar convergente daqueles que por ventura queriam um aprofundamento
objetivo. Os escravos negros entraram no Piauí pela estrada que ligava a feira
de gado de Capoame, na Bahia, tendo como destino a Vila da Mocha, (Oeiras).
Foram homens, mulheres, jovens e crianças que chegaram cujo destino era os
engenhos, as fazendas ou mesmo pequenas propriedades que tinham o mesmo tope.
Nestes locais, o negro procurou externar seu cotidiano bem como se predispor a
ocultação dos hábitos e costumes típicos s da nova moradia. Todavia, entre o
trabalho forçado e a senzala, o negro africano conseguia deixar rastro de sua
cultura, através das lendas, crenças, mandigas e religiosidades, bem como
danças e culinária. Embora, na maioria das vezes tais práticas fossem um motivo
certo para castigos no tronco. Na vila de Valença (PI), não era diferente do
restante da capitania do Piauí, cujas informações da presença do negro africano
foi marcante servindo de base para Valença do Piauí, como também em outras
cidades do Piauí que tiveram sua origem no período colonial.
Palavras - Chave: Negro. Senzala. Escravo.
ABSTRACT: The presence of
black in the official story of Piaui is very recent. In terms of time, in the
recent past of the black presence in the historical context of Piauí, no more
than a few pages in textbooks and when they did it was centered in what look
Europeanized pruned a convergent perchance those who want a deeper purpose .
Black slaves entered the Piauí the road that connected the cattle fair of
Capoame, Bahia, having as target the Village of Mocha, (Oeiras). Were men,
women, youth and children who arrived whose destination was the mills, farms or
small farms that had the same tope. In these places, the black looked
externalize their daily lives as well as predispose the concealment of the
habits and customs of the typical s new home. However, between forced labor and
slave quarters, the black African could trace their culture through legends,
beliefs, mandigas and religiosity, as well as dances and cuisine. Although,
most of the times such practices were a right reason for punishment in the
trunk. In the village of Valencia (PI), was not different from the rest of the
captaincy of Piauí, whose presence information black African was striking
providing the basis for Valencia Piauí, but also in other cities of Piauí which
had its origin in the colonial period.
Key -
Words: Black. Slaves. Slave.
INTRODUÇÃO
Cada povo é construtor de sua História, daí se tornar detentor daquilo
que produz, cuja forma como foi construída é que provoca a transformação. No
caso brasileiro, o efeito das teorias raciais para o processo de aceitação do
elemento negro e sua cultura, foi catastrófico. O negro era associado a todas
as características nocivas do caráter humano. Foi observando essas causas que
despertou o interesse de trabalhar o tema sobre o negro e sua importância no
con-
______________
¹Graduado em Licenciatura Plena em História pela
Universidade Estadual do Piauí, especializandoem História e Cultura
Afro-brasileira, pela Faculdade do Noroeste de Minas (FINOM).
texto histórico do
Piauí Colonial, objetivando entender a maneira como foi conduzido o labor
compulsório do povo de origem africana na terra piauiense. Para tanto foi
necessário mergulhar no processo histórico e bibliografias especializadas para
obter suporte necessário para condução do trabalho em voga. Todavia as
respostas não tardaram acontecer, a publicação Obra Completa de Monsenhor
Chaves, como também Braço Forte de Solimar Oliveira, as informações da sobre a
criança no Piauí colônia de Miridan Falci, juntaram com as publicações de Pe
Claudio Melo e numa visão mais próxima o trabalho de Reinaldo Coutinho que
aproximou a realidade local, intitulado Antiguidades Valencianas.
Todas essas referências proporcionaram a edificação desse trabalho que
mesmo abordando uma realidade local e concomitantemente mais próxima de nosso
povo e de nossa gente.
Não foi fácil trabalhar o tema “Entre açoite e grilhões a participação
do negro no contexto histórico do Piauí Colonial”, todavia, foi possível
adquirir subsídios capazes de provocar uma reflexão para se entender de que as
realidades estão mais próximas de cada povo, mais do que se possa imaginar, daí
a suma importância para própria comunidade local bem como pesquisadores no
assunto e estudantes, no sentido de elastecer o conhecimento sobre a temática
abordada. E como disse Manolo Florentino: No Brasil ainda não é um país onde a
memória histórica tenha muito peso, pelo contrário, é um país onde as
circunstâncias fazem com que as interpretações sejam várias, dependendo das
circunstâncias.
O certo é que para construção de uma identidade é necessário pesquisa e
conhecimento para alimentar os que se propõem solidificar as causas dos fatos e
acontecimentos que protagonizaram a História de nosso povo.
DESENVOLVIMENTO
A história de um povo é
construída de forma lenta e gradual. De um lado, pontua a História Oficial como
detentora da veracidade absoluta, onde são mostradas as bravuras dos heróis,
seus momentos de glória, estripe social, cor e religião. Do outro lado, apenas
referencias, quando muito o grupo social que pertence ou mesmo a forma cruel
como chegou à localidade e a função que iria desempenhar.Como anônimo,
permaneceu tornando-se conhecido mais pela terra da origem ou pela quantidade
de melanina concentrada no corpo, acrescido da qualidade bom ou ruim, retraindo
assim as fotos e acontecimentos protagonizados de forma efêmera e secundária.
No entanto os fatos e acontecimentos advindos do negro na nova versão da
História Nova possuem o mesmo peso histórico que os oriundos das entranhas
europeia, graças aos novos paradigmas que regem a historiografia oficial.
Se procurarmos pela África,
no pensamento histórico, veremos que num primeiro momento, para que os estudos
sobre a África pudessem avançar além de anotações sobre “a natureza exótica”,
foi necessário vencer a ideia de que a África era um continente sem história...
Os africanos apareciam, como herdeiros de costumes rudimentares, sociedades
primitivas paradas no tempo desde períodos imemoriais. (ALMEIDA, 2007, P. 51).
A presença da História do negro
na corrente oficial é muito recente em se tratando de tempo, tornando-se mais
elástica bem diferente de um passado recente que ultrapassava de poucas páginas
nos livros didáticos no Piauí, não era diferente existia certa anorexia por
parte dos estudiosos para tratar do assunto em voga.
A História, contudo,
comprova o que o olhar congestionado pelo euro centrismo não nos deixa ver,
pois no caso da África, durante o transcorrer da História das Civilizações
Ocidentais vários foram os lugares e os períodos de grande florescimento
cultural. (ALMEIDA, 2007, p.52).
Este olhar europeizado
convergente ao negro perpetrou no solo piauiense, aplicando as mesmas torturas,
olhar diferenciado, trabalho compulsório e tantos outros tipos de sociedade
detentora do poder, também não poderia ser diferente, os que aqui estiveram
eram remanescentes dos primeiros que chegaram ao Brasil e não fugiam do adágio
popular “damos aquilo que temos”.
Embora, a
presença humana, seja notória no espaço geográfico que forma o estado do Piauí,
através da simbologia da arte parental, na região sudeste do Estado,
especificamente na cidade de São Raimundo Nonato, e cidades circunvizinhas,
somente ocorrem à presença do homem branco pós a restauração do domínio
português (1640).
O Piauí teve seu povoamento
através da instalação das fazendas de gado, o negro chegou junto com os
primeiros criadores. Por volta de 1674, Domingos Afonso Sertão amplia seus
domínios até as terras que seriam mais tarde definidas como Piauí. Transfere
algumas fazendas de gado e instala o vaqueiro negro, que com essa nova
atividade e estrutura produtiva inicia outra experiência de trabalho a mão de
obra negra na montagem das fazendas de gado. (MOTT, 1998, p. 34).
Por volta de 1697, o Pe. Miguel
de Carvalho publicou uma produção textual, intitulada Descrição do Sertão do
Piauí, elencado de forma minuciosa, 129 fazendas, com seus respectivos
proprietários, número de pessoas, inclusive os negros existentes em cada
agremiação.
Em 1993, Pe. Cláudio Melo, faz
uma nova publicação do documento apresentando comentários, oportunizando novas
interpretações sobre o tema. “O
grupamento das fazendas sempre com referências a rios, riachos, lagoas e olhos
d’água era a forma usual numa época em que nem havia demarcação nem as fazendas
tinham limites definidos”. (PE. CLÀUDIO, 1993, p.13).
Ressalta ainda Pe. Cláudio Melo
(1991) segundo a releitura feita do Trabalho do Pe. Miguel de Carvalho, moravam
nas 129 fazendas do Sertão do Piauí, 441 pessoas entre brancos, negros, índios,
mulatos e mestiços.
Convém ressaltar que o número
existente corresponde às pessoas que haviam recebido o Sacramento do Batismo e
muito raro do matrimonio, daí entende que existia os que não se enquadravam na
clandestinidade religiosa, daí não serem citados.
Segundo, Mons. Chaves (1998) os
escravos negros entraram no Piauí pela estrada que ligava a feira de gado de
Capoame, na Bahia, a Vila da Mocha no Piauí, afirmando também “... geralmente,
nas fazendas e sítios piauienses o vaqueiro era ajudado, nos seus trabalhos por
negros escravos”.
Como em todo Brasil, podemos
distinguir bem nítidas, na vida do escravo negro, duas fases. Uma primeira em
que imperou, com certa ênfase, o regime de ferro e fogo, como os castigos mais
violentos e mais fortes, com o abandono dos doentes e dos velhos... A segunda
fase, menos árdua e violenta, com tratamento mais cuidadoso aos escravos, é o
que se segue ao ano de 1850, quando medidas muito sérias começam a ser tomadas
para o cumprimento da Lei de 1831, que extinguiria o trafico no Brasil.
(CHAVES, 1998, p. 37).
O próprio Monsenhor Chaves chama
atenção quanto à forma que era tratado o escravo, a lei existia, porém o dono
do escravo era quem fazia a lei ou fazia “vista grossa” para com a aplicação da
própria lei, numa terá distante, o querer se transformava em prazer e o escravo
era quem recebia as penalidades, neste período houve muito tronco, muita
gargalheira, muito escravo castigado.A presença do africano escravizado na
terra piauiense foi uma constante, foram, homens, mulheres, jovens e crianças
que aqui chegaram e logo eram encaminhados para os engenhos para aplicar a
força num labor diário.
O regime escravista no Piauí
não foi implantado levando em consideração somente o aspecto puramente
econômico. A estrutura da produção pecuária e de subsistência poderia existir
sem que se necessitasse recorrer a esta forma de trabalho compulsório, mas o
fazendeiro tinha uma ideologia calcada dentro do sistema mercantilista cujo
objetivo central era a acumulação de riquezas. (SANTOS, 2009, p. 94).
Foi neste cenário de aptidão e
sujeição que o trabalho escravo era realizado no Piauí, contudo o escravo
procurou externar seu cotidiano vivenciado em outros engenhos ou fazendas. Tudo
que fazia era diferente ou causava a diferença e até certo ponto exótico que
misturado ao erótico se transformava em profano, mas no cômputo geral, atingia
o sagrado numa simbiose entre o querer do patrão e fazer do escravo.
O trabalho no engelho exigia
uma considerável equipe de trabalhadores com diferentes habilidades: mestres de
açúcar, caldeireiros, escudeiros, purgadores, entre outros. As funções que
exigiam maior habilidade, também eram ocupadas por escravos e a tendência era o
emprego exclusivo deles nas tarefas mais delicadas. (FARIA, 2010, p. 16).
Segundo, Solimar Oliveira, no seu
livro Braço Forte, aborda o trabalho escravo nas fazendas da nação Piauí
(1822-1871) aqui não era diferente dos demais, começava muito cedo, sem
diferença de sexo, em geral, tinha inicio nas criatórias a partir dos seis anos
de idade ao ocuparem-se em função pastoris complexas. (LIMA, 2005).
Percebe-se que neste intermeio,
entre o trabalho forçado, e a senzala, o africano conseguia deixar rastro de
sua cultura, absorvida pelos membros da fazenda, já que os senhores eram mais
preocupados com a ganancia advinda da produção e multiplicação da espécie
humana, saciando a libido de forma inescrupulosa.
Maria, trabalhadora,
escravizada da inspeção de Nazaré, que estava nos campos peando cavalo e
poldros, semeando e colhendo o alimento do dia a dia. A trabalhadora era
nascida e crescida numa fazenda onde os machos pareciam mais fortes e as
fêmeas, mais graciosas. Maria, sem marido nem parceiro e com pouco mais de
idade de uma criança, ficou “barriguda”. Quem sabe tenha perdido a virgindade e
ficado grávida entre caricias de mãos calejadas em encontros apaixonados, quiçá
fora vítima de abusos sexuais, oprimida e violentada. (LIMA, 2005, p. 39).
Era uma rotina, Maria quantas
outras marias, franciscas, terezas, ou mesmo conceição, tiveram este mesmo
destino e ainda tinham que suportar as grosserias do Senhor da fazenda e os
olhos cavernosos da patroa. Os rebentos destas conveniências cresciam e também
se reproduziam, tornado o cotidiano uma evidência da própria vida. Todavia, o
proprietário da fazenda criava um perfil religioso, obrigando mais para a
Igreja o testemunho de fé através dos sacramentos especificamente o Batismo
conforme o texto:
Em Oeiras, segundo os
registros paroquiais de 1833/1835 celebraram-se 590 batizados de crianças
livres e 198 de crianças escravas. Destas somente 11os pais eram casados. Cento
e oitenta e sete crianças escravas foram conduzidas pelas mães solteiras.
(FALCI, 1991, p. 15).
A crescente taxa de procriação
das mulheres negras, resultante das senzalas, ou fora dela, deu margem a
proliferação da população com traços bem fortes dos ancestrais oriundos da
África ou remanescentes.
Todo este contingente
populacional absorveu através da memória, os hábitos e costumes, lendas,
crenças, mandingas e religiosidade, bem como, as danças e culinária. Tudo
ocorria tão normal que se tornava cotidiano para os próprios escravos, mesmo
aglutinados na vastidão da terra estranha, pareciam perlongar os terreiros dos
casebres para o seu sim. Naquele espaço, meninas e meninos misturaram a outras
crianças do mesmo tope para externar suas angústias ou mesmo um gesto fraterno
amenizar os suplícios que lhe organizavam durante o dia. Enquanto os adultos e
idosos se viraram em danças e rezas para entender o porquê de tanto suplício na
terra alheia. O tronco, a marca de ferro, as torturas psicológicas, se
imbricava com o tinis das correntes, grilhões e a famosa gargalheira.
Em outras ocasiões ficavam
quistos sentados sobre esteiras, com olhinhos remelados, observando as mães
que, em silêncio, fiavam ou cozinhavam. O sossego era quebrado com gritos e
choros devido a uma picada de inseto em suas peles desprotegidas pelo rosnar de
um cão avesso, a um afago, por um beliscão ou mordida de um irmão mais velho.
(LIMA, 2005, p. 67).
Estas situações eram
protagonizadas por estas crianças, bem como jovens, velhos e adultos, que
faziam parte do mesmo grupo na fazenda.
A migração era constante, ficando
mais definida após os meados do século XIX, quando ocorreu a migração interna.
Em cada fazenda ia recebendo o negro e este num espaço bem minúsculo de tempo
iam se adaptando ao meio porque o destino era sempre o mesmo: senzala, serviço
pesado e um novo patrão, os mesmos castigos. Segundo Monsenhor Chaves, o número
de escravos nunca foi muito grande no Piauí, até a extinção do tráfico (1850),
o número de escravos negros crescia e daí por diante passou a decrescer. Em
1882 em todo Piauí havia 21.691 escravos.
O processo de
individualização do trabalhador e de esfacelamento das famílias, iniciado com o
Real Fisco e sistematicamente reproduzindo pelo Império, era uma das
características do regime escravista nas fazendas, que imprimiu uma dinâmica
própria para a reprodução dos trabalhadores escravizados. (LIMA, 2005, p. 52).
Era alto o índice de morte entre
os negros na Capitania do Piauí, a maioria ocasionado pelos maus tratos físicos
e sociais, era bem rústico o local destinado para dormir, e as vestimentas mal
cobriam o necessário. Todo esse desconforto provocava uma falta de apego ao
gosto estético corporal, não se preocupando com o que era propicio ou não para
o bem estar físico e social. Pelo contrário, desejavam as moléstias para terem
algum descanso.
O poder público sempre foi
profundamente apático e insensível ao problema de elemento servil. Quando em
todo país este problema empolgava todo mundo e procurava-se ver no escravo, um
ser humano, as autoridades municipais, da capital do Piauí (Teresina) numa
insensibilidade revoltante, ainda persistia em equiparar os escravos aos
animais de carga, colocando-os no mesmo pé de igualdade, humilhando-os
publicamente. (CHAVES, 1998, p. 199-200).
O tratamento dispensado ao negro
não se restringia a Teresina, noticias apontam outros municípios. Segundo,
Reinaldo Coutinho, no seu livro Antiguidade Valenciana (2000) na zuna rural da
então Vila de Valença, por volta de 1880 no povoado Isidória, vivia uma negra
escrava que era “gaga” de nome Maria Conga. Certo dia desobedeceu às ordens do
seu Senhor e por isso foi sentenciada a ser acorrentada a um enorme tronco, foi
solta somente no dia do falecimento de seu Senhor, porque existia um ritual
local que todos os escravos teriam que beijar os pés do Senhor ou de qualquer
membro da família por ocasião de óbito. No caso de Maria Conga, se recusou
fazer tal ritual daí ter voltado para o tronco saindo apenas quando ocorreu a
Abolição em 1888.
Na região de Valença, as
atrocidades eram frequentes. No mesmo livro que faz referência a escrava Maria
Conga, Reinaldo Coutinho (2000) também alude sobre o proprietário da Fazenda
Serra Negra, Capitão Luís Carlos Pereira de Abreu Bacelar.
O potentado teria se
irritado com uma velha escrava negra. Como castigo, o cruel latifundiário teria
mandado serrar viva a infeliz mulher. As tradições sobre as crueldades, de Luís
Carlos são macabras. Na Fazenda Serra Negra, havia um curral de pedra que
abrigava onças, onde o cruel fazendeiro mandava jogar os desafetos e os
escravos rebeldes. (COUTINHO, 2000, p. 54-55).
O tratamento com o negro em
Valença (PI) não resume apenas nestas duas referências. No Acervo Museológico
da Secretaria Municipal de Cultura, existe uma corrente e uma gargalheira de
ferro, encontradas nos escombros da Casa Grande da Fazenda Tapera, propriedade
do Major Antônio José Leite Pereira. Noticias também se aglomeram dando vida ao
passado recente abordando a presença do negro, nas várias fazendas do
Piauí.
Nomes como Esperança Garcia,
Sabina, Manoel Conrado, povoam a memória dos mais velhos, enquanto novas
histórias solidificam nas publicações escritas. Quanto à escrava negra,
Esperança Garcia, que teve a coragem de denunciar ao Rei os maus tratos que lhe
eram atribuídos através de uma carta. Sabina, na região de Aroazes morreu de
fome e sede porque desobedeceu ao seu proprietário. Manoel Conrado, no Sítio da
Barra, zona rural de Valença – PI tinha como castigo limpar a “levada do Rio
Tranqueira” à noite quando praticava alguma infração no referido Sítio, mesmo
sendo Manoel Conrado, um negro de confiança do Sítio Barra onde morava. Tantas
outras informações também povoavam a mentalidade do povo piauiense, sendo que
cada história, tem seu espaço geográfico tampo psicológico e cronológico, bem
como seus protagonistas. Nada mais convincente de que a História de Negra
Mariana da Fazenda Riacho Barnabé, zona rural de Valença do Piauí, que num
momento de agonia socorreu a patroa, Sra., Joana Barbosa Lima em troca de umas
velas em seu sepulcro, ou mesmo Luiza Caburé, da Fazenda Barra, que procriava
do patrão por obrigação e por amor, de seu companheiro de Senzala, Manoel
Conrado.
A história de um povo é contada
através das fotos e acontecimentos protagonizados pelo próprio povo. Não existe
história melhor, como também história pior, no cômputo geral existe a história,
que por mais objetiva que seja é sempre contada pelo ângulo de quem escreve e
com o negro escravizado no Piauí, não foi diferente. Neste espaço geográfico
onde está fincando a terra piauiense, o negro escravo contribui muito para
alcançar o desenvolvimento através de sua força muscular, do repertório
cultural nato ou adquirido por onde passou antes de chegar à terra piauiense ou
mesmo de forma anônima também contribuiu para construção da própria história.
As referências sobre o negro
escravo no Piauí, são bem mais amplas o que ocorre é ainda um número de
pesquisadores muito resumindo para trabalhar a temática.
E como diz a Professora Ivete
Almeida no seu texto, Etnia, Cultura e Identidade, “nenhum grupo sofreu tão
intensamente a separação e foi tão brutalmente obrigado a reconstruir sua
leitura sobre si própria e sobre seu lugar no mundo como os povos negros”.
CONCLUSÃO
A história de um povo é contada através
dos fatos e acontecimentos protagonizados pelo próprio povo. Não existe
história melhor, como também história pior, no computo geral existe história,
que por mais objetiva que seja é sempre contada pelo ângulo de quem escreve.
Com o negro escravizado no Piauí, não foi diferente. Ele contribui muito para
alcançar seu espaço mesmo tendo que suportar maus tratos físicos, psicológicos
por parte de seus proprietários e sufocar o eco da liberdade. Muitos foram os
que foram mutilados e chegaram a óbito, outros tiveram que suportar castigos
pesados. Apenas os remanescentes conseguiram ecoar o grito de liberdade que de
forma efêmera resumiu-se numa simbologia panteada por um gesto nobre da filha
do Imperador do Brasil D. Pedro II. Porém, serviram de base para iniciar a
construção da história para a geração em formação que ainda vagueia carregando
o antecedente através do peso, da cor e o preconceito advindo dos que ainda não
conseguiram suportar os avanços das politicas públicas que tratam do negro no
Brasil e que em linha horizontalizada atingiu também o Estado do Piaui.
Percebe-se, portanto, que a
história com a sua temática dotada da razão, encontra espaço para registar a
importância do negro escravo dentro da historiografia piauiense.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Ivete
Batista da Silva. Etnia, Cultura e
Identidade. Texto Básico da
Disciplina “Questão racial: Africanidade e Democracia” –Editora Prominas.
CARVALHO, Miguel
de.Descrição do sertão do Piauí:
comentário e notas de Pe. Claudio Melo. Teresina – Pi. Gráfica Mendes, 1993.
CHAVES, Monsenhor.
Obra Completa. Halley S.A. Gráfica Editora – Teresina –Piauí –
1998.
COUTINHO,
Reinaldo. Antiguidades Valencianas,
Editora Caburé, Caxias-Ma –2000.
D’AMORIM, Eduardo.
África, essa Mãe quase desconhecida,
Editora FTD S.A- São Paulo – 1997.
FALCI, Miridan
Britto Knox. A Criança na Província do
Piauí. CEDHAL(Centro de Estudos de Demografia Histórica da América Latina)
– Universidade de São Paulo- 1991.
FARIA, Ricardo de
Moura.Estudos de História, Administração
e economia nos séculos XVI e XVII – Editora FTD S.A – São Paulo -2010.
FLORENTINO, Manolo. A escravidão sem racismo. Revista de História da Biblioteca
Nacional, ano 8 - Nº 91 p 53 – 2013.
LIMA, Solimar
Oliveira. Braço Forte,Trabalho escravo
nas fazendas da nação Piauí (1822/1871). Passo Fundo: UFP,2005.
MOTT, Luiz.Piauí Colonial: população, economia e
sociedade. Teresina: FUNDAC – Coleção Grandes Textos, 2010.
SANTOS, Gervasio,
/Kenard Kruel. História do Piauí. Ed. Halley/Zodíaco. Teresina-PI. 2009.
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