VALENÇA DO PIAUÍ
Localização, Fisiografia e
Economia
Valença do
Piauí, inclusa na
micro - região de igual nome,
Centro-Norte do Estado do
Piauí, a cerca de 210 km ao
sul da capital, com
acesso principal através da BR –
316.
As coordenadas geográficas da
sede municipal são : 6º 24´ 02” LAT- SUL
e 41º 44´55” LONG-OESTE. Os limites municipais são: Aroazes
(Norte-Nordeste ); Pimenteiras (Nordeste); Lagoa do Sitio
(Leste); Inhuma (Sul); Novo
Oriente e Elesbão
Veloso (Oestes).
O clima do
município é do
tipo tropical semi-árido,
quente, com estação seca
de sete a oito
meses. A temperatura máxima é
de 35 C, e a mínima
de 26º C . a média anual é
de 29º C. A precipitação pluviométrica média anual
é de 1.103 mm.
A vegetação é
característica de zonas de
transição, com campo
cerrado , caatinga arbórea e caatinga
arbustiva . No município
destaca-se o babaçu,
a carnaubeira, o buritizeiro,
a gameleira, o pequizeiro, o jatobá,
a faveira, a jurema, o
murici, o mandacaru, o xique – xique, a coroa-de-frade, a aroeira, o pau-d´arco, a maniçoba, a faxina,
taturubá, inharé, maniçoba, algodoeiro,
podoia, pau de leite, etc.
A região de
Valença faz parte da Bacia Hidrográfica do Poti e banhada pelos
seus afluentes: Sambito (antigo São
Vitor), que serve
de limite este
município e o de Pimenteiras: também Valença
e Aroazes. Um
afluente do Sambito, o
São Vicente , serve de limite
entre Valença e Elesbão Veloso. O Tranqueira é
afluente da margem
esquerda do Sambito , e o
Catinguinha , que corta
a cidade Valença é ,
por sua
vez afluente do
Tranqueira. Não há
lagoas de destaque no
município, mesmo assim podem
ser citados, Roque - Poti
e Nogueira, ambas na Serra
do Batista, podendo ser classificadas no rol das lagoas altas.
Geologicamente, o município de Valença
está incluso na Formação
Cabeças (Grupo Canindé),
datada do Devoniano Médio
(Era Paleozóica), sendo construída
basicamente por arenitos
finos a médio ,
de cores variada. Em
função de seus cimento
silicoso, a erosão produziu nesses arenitos um relevo
ruiniforme, com cobertura detrítica de
planalto , constituída por
sedimentos areno-argilosos e lateríticos.
Na porção nordeste
do município aflora
a Formação Sardinha
constituída por basaltos escuros,
predominantemente alterados; e também diabásio
e gabros, originários por vulcanismo
ocorrido no Período
Cretáceo(Era Mesozóica).
O relevo
da região é parte integrante dos Planaltos
e Chapadas da Bacia do
rio Parnaíba, constituído
por superfícies aplainadas
e dissecadas em interflúvios
tabulares , com sedimentos paleomesozóicos.
A economia do município é essencialmente primária,
destacando-se os rebanhos
ovinos, bovinos e caprinos.
Na parte agrícola, destaca-se o
cultivo de subsistência
(arroz, milho, feijão, mandioca e
cana–de-açúcar ). O comércio é razoavelmente bem desenvolvido, pois é
um centro regional
para municípios vizinhos. O turismo
tem amplas possibilidades de
se desenvolver, em
decorrência de inúmeras variadas
atrações, seja na parte
geológica, como na arqueológica, patrimônio material e imaterial.
Um pouco
da historia
A cidade de Valença
teve sua origem numa
aldeia de índios Aruaques.
Segundo o historiador
Alencastre (1831-1871), a Freguesia de Valença foi criada em 1740, por
inspiração do Bispo
do Maranhão, Dom Frei Manoel
da Cruz, sob a invocação de
Nossa Senhora da Conceição .
Como
a princípio foi um aldeamento
para índios convertidos,
a freguesia passou a se
chamar de Nossa
Senhora da Conceição dos
Aroazes, ou ainda,
Catinguinha. Estas denominações
foram extintas e substituídas por Valença
em 20 de setembro de
1762, pelo governador
da Província do
Piauí , João Pereira Caldas,
obedecendo a criação
da vila por
Carta-Régia (19 de junho de 1761).
Segundo
o mapa estatístico remetido pelo
vigário Manoel Nunes
Teixeira em 1762, sua freguesia
apresentava os seguintes
elementos populacionais :
- Vila :
39 fogos (casas), 121 pessoas livres e 31
cativas;
- O restante da
freguesia; 266 fogos, 55 fazendas de gado,
751 pessoas livres e 578 escravos.
No
século seguinte , Alencastre
apontava para 1854, uma
população de 10.000 almas,
incluindo ai uns
1300 escravos .
Em
1772, as atividades agrícolas de
Valença eram assim descritas pelo
ouvidor Antonio José
de Morais Durão:
“ E
rara a fazenda desta freguesia
onde não haja
roça e engenho, porque é
uma das que tem
melhores terras nesta capitania...”
Sobre a vila
, propriamente dita,
se manifesta o ouvidor :
“ Valença, anteriormente
chamada Catinguinha, vila pequena,
situada sobre uma ribeira que
depois de quatro
léguas entre no Rio
de São Vitor. A sua
matriz é dedicada a
Nossa Senhora do Ó.
No seu termo
há minerais de
salitre e bons pastos,
que criam muito
gado. Obra sete
léguas arredada está a capela
de Nossa Senhora da Conceição,
noutro tempo paróquia,
em cujos arredores se
cultivavam os gêneros
do país.”
Alencastre já se
referia ás terras de Valença
como uma
fronteira agrícola:
“
O Terreno geralmente é plano,
e em algumas partes
paludoso. Nos lugares úmidos se encontram
longos intervalos de
terras de massapé, que
são aproveitadas com algum
resultado próspero, na
lavoura de cana, e
tem continuado até hoje, porem
em pequena escala,
porque seus habitantes, como os de toda
a província, também
preferem a criação de
gado a qualquer outra
industria. Banhada pelas águas do
Berlengas, Poti, Sambito, São
Nicolau e Onça, e
outras pequenas regatos,
pode para o
futuro ser um dos municípios mais agrícolas do Piauí.
A lei de 15
de outubro de
1827 deu lugar à criação
das escolas oficiais na província. Porem , Valença só
veio a ter a sua
primeira escola a 30 de novembro
de 1831, dedicada
exclusivamente ao sexo masculino.
Assim , Alencastre nos
explica este atraso
educacional:
“ As escolas do Piauí são
criadas por empenho e
afilhadagem, e Valença nunca
teve um representante na
Assembléia provincial que se lembrasse de proteger alguma
valiosa pessoa, menos
valiosa para dirigir
uma escola.”
A
lei Provincial de 5 de
setembro de 1836 transferiu a sede
de sua matriz
e deu-lhe a invocação de
Nossa Senhora do Ó
e Conceição de
Valença.
A
30 de dezembro de
1889, através do
decreto nº 03, a vila é transformada
em cidade.
Pelo Decreto-Lei
nº 745, de 30 de dezembro de
1943, Valença passou a
denominar-se Berlengas, nome conservado
até 1º de janeiro de
1949, quando por
uma lei do
ano anterior , a
de nº 128, passou a
chamar-se definitivamente Valença do
Piauí.
O MUNICIPO
DA CIDADE – SORRISO
Hoje a
simpática e acolhedora cidade
de Valença nos
traduz um agradável
bucolismo, paz e uma
profunda sensação de
ambiente histórico-cultural, que
emana de seus históricos casarões, de suas
tortuosas ruelas, e de seu povo
sedento do saber de
suas raízes históricas.
Terra de filhos
ilustres, Valença brotou
no seu torrão
o talentoso mestre
Dezinho (1916-2001), notável
escultor de renome nacional. Seus rebentos chegaram
a governar o estado,
tais como Arlindo
Nogueira(1853-1917) governador de
1900 a 1904; Gabriel Luis Ferreira (1848-1905), governador em
1891; Petrônio Portela Nunes (1925- 1980), governador de 1963 a 1966; Djalma Martins
Veloso (1921-2007), governador –
substituto várias vezes entre 1978 e 1979; Lúcido Portela
Nunes (1922-), de 1979 a 1983.
Valença, berço de
intelectuais como o poeta João
Ferreira Ferry (1895-1962) e do
historiador e Conselheiro do
Tribunal de Contas, Dr. Alcides Nunes, transmite,
geração após geração , o gosto
pelas suas gloriosas e longínquas origens...
A cidade conserva suas
agradáveis feições provincianas,
com apenas cerca de
14:000 habitantes, de um total
de 20.000 para todo
o município. Um povo hospitaleiro e cordial que
procura harmonizar seu
desenvolvimento econômico sem desdenhar
suas riquezas culturais.
Animadas festas e festejos
agitam o
município o ano
inteiro, além de notáveis eventos culturais. O carnaval é muito
animado, atraindo turistas
de todo o
estado. As festividades religiosas da Semana
Santa com as celebrações religiosas e procissões e a
peça teatral “ Vida,
Morte e Ressurreição
de Jesus, através
da companhia de
teatro “Os Desfraldadores”, do
teatrólogo Raimundo Barbosa, transformam
as Ruas de Valença
numa Jerusalém dos
anos 33 da Era
Cristã.
As festas juninas e o seu tradicional
e concorrido festival
de quadrilhas resgatam
brilhantemente os costumes
de nossos caboclos.
A semana do folclore
revive a memória popular
do município em
elogiáveis encenações. O
aniversário da cidade (20 de setembro) e a festa da
padroeira (17 a 26 de dezembro)
são alegres festividades
onde se harmonizam
religiosidade e diversão. Muitos outros
eventos culturais e
festivos tornam o
simpático município agradabilíssimo para
visitas o ano inteiro.
Um passeio pelas
provincianas e românticas praças nos
fazem aspirar um sentimento nostálgico
de épocas antigas. Ladeando
os jardins arborizados
e bem cuidados,
estão os antigos
casarões da época dos
sisudos coronéis como aqueles localizados na praça de
Bela-Flor, ou o sobrado
“Colonial , de 1919,
hoje quartel da Polícia
Militar.
Uma visita ao centro
religioso da cidade nos
leva ás igrejas
de São Benedito e de
Nossa Senhora do
Ó. Ambas nos atestam
impressionante devoção espiritual
do povo valenciano. A
de São Benedito
é mais antiga, datada de 1727,
em estilo neoclássico
e com várias lápides no
seu interior. A
segunda, de igual
estilo e hoje a
matriz, foi erguida em
1898.
Após uma relaxante caminhada pela parte
velha da cidade, uma verdadeira volta
ao passado, mergulhando
ainda mais profundamente
na cultura histórica de Valença,
devemos visitar o
acervo do museu
da Secretaria Municipal de
Cultura, onde existe uma concentração material da
história do município, na forma
de enormes telhas, pedras, grilhões,
móveis, livros, fotografias, cerâmica,
utensílios de ferro, etc., que
ocupam inúmeros salões
da secretaria.
Num fim
de semana , a boa
pedida é um banho
relaxante no Balneário
Santa Rosa, que
conta com restaurante ,
um mini-açude e
uma pequena queda d´água.
Para quem quiser curtir
algo ainda mais
ecológico e rústico, a pedida
é uma visita
á cachoeira da Fazenda Velha,
próxima da Vivenda “Vô Barreto” a 18 km da
cidade, perene mesmo
em época de estiagem, cujo
espaço incluso no Parque Geológico do Buritizal do Martins. Enquanto
na Barragem Mesa de
Pedra, o turista se
deleita com a beleza
do lugar num misto
entre e ação
da natureza e a ação
do homem.
Na paisagem rural, é de bom
alvitre uma visita
gastronômica ás farinhadas, onde nos
sentimos tentados pelo tradicional beiju, artesanalmente feito
em balcões caoticamente
esbranquiçados pela farinha e pela goma. Também
é um estímulo
à gula uma visita
às casas de rapaduras durante
as moagens, onde sentimos
o aroma adocicado do mel
na cara do visitante.
O resgate cultural
de Valença, também fica
patente na criação
da Academia de
Letras da Confederação
Valenciana, centro erudito
que abrange 11 municípios circunvizinhos, berços
de doutos intelectuais piauienses.
Em
suma, pelos motivos expostos superficialmente acima e
por inúmeros
outros que existem, não
faltarão motivos para
uma agradável temporada ou fim-de-semana em Valença do
Piauí. Então o visitante compreenderá
o porque de
chamá-la de “ Cidade – Sorriso do
Piauí ”.
HISTÓRICO: AS PRIMEIRAS NOTÍCIAS
As
primeiras noticias sobre
as antiqualhas de Valença
nos foram legadas pelo
padre e andarilho Francisco Teles
de Meneses (1745-1845). Autor
de um
manuscrito intitulado “
Lamentação Brasílica “, o religioso
descreve curiosidades, pinturas e
gravuras rupestres, além de pedras insólitas ou artificiais, que ele
supunha serem marcos indicadores
de botijas enterradas por holandeses
ou jesuítas . Na sua
obra, escrita sobre
viagens efetuadas entre 1795 e 1805,
Teles de Meneses descreve estas ocorrências no Piauí,
Rio Grande do
Norte, Paraíba, Ceará e
Pernambuco.
Várias são as
suas noticias sobre o
Piauí. Sobre a região de
Valença , temos as duas seguintes descrições:
“
Pedra Pintada, ribeira de Valença.
Disse um morador na
Fazenda Surubim, no sertão
das caatingas, que existe
uma pedra à maneira
de uma casa,
cheia de letreiros, por dentro
e por fora, onde está esculpida uma cruz.
“ Vargem da Serra,
Freguesia de Valença.
Entrada da Serra
Negra para dentro, adiante
do Morro do
Chapéu, no lugar chamado Vargem da Serra,
dizem haver uma penha
alta e talhada, á
beira da estrada, na
qual em boa altura
está a forma de
um nicho, dentre do
qual se divulga
a figura de
frade, sacrificando um jacaré
sobre um altar, tudo feito
na pedra, e esta
penha está toda circulada
de letras e caracteres
desconhecidos, gravados a
cinzel ou picão; entre
as quais se divulga a figura de um
negro por ser
preta, e rastros de onça.”
Por volta de
1927, estudou as antiqualhas valencianas o austríaco
Ludwig Schwennhagen, que investigou
diligentemente as furnas, grotões
e letreiros do lugarejo
Buritizal onde descobriu
o Subterrâneo Fechado
do Buritizal, um importante
sítio arqueológico do município,
o qual não
conseguimos visitar ainda
que saibamos a sua
exata localização. Segundo
o austríaco, o subterrâneo
seria resultado de
obra de mineração
dos antigos fenícios
no Piauí, Diz ele:
“ Um grande
centro de mineração
foi a região de
Valença. Ali existem
dúzias de furnas e buracos, cavalos
na procura de
metais e para a
filtração de salitre .
O ponto mais conhecido é o
Subterrâneo Fechado de
Buritizal. Nosso desenho
mostra o aspecto do
morro misterioso, tomado
do outro lado
do rio, numa
distância de 200 metros .
Parece uma grande
porta de pedras,
fechada por meio
de um cadeado. Em
cima da porta
repara-se uma placa lisa
com letras e sinais hieroglíficos. Passando o
leito pedregoso do
riacho ( que seca
no verão) e chegando
perto do morro,
enxerga-se que a porta
é formada por grandes
pedras toscas que fecham a entrada de uma furna. As fendas entre as
pedras grossas são preenchidas
com pedras menores e barro,
mostrando claramente que a
entrada foi fechada propositadamente. A
placa com escritura contém muitos
sinais semelhantes á
letreiros das grutas da Bahia.
“ Não se
pode duvidar que a
furna fosse obra
de mineração e
talvez fossem os mineiros mesmos que fecharam
a entrada, para deter outros exploradores.
Mas pode ser que a mina
ficasse abandonada, como todas
as outras, e o
povo aproveitou a furna como camocim,
que dizer, como
depósito de urnas. A
tribo que morava
ali emigrou talvez
para uma outra
região, e não
querendo que uma outra
tribo ou os
tapuias quebrassem as urnas,
fecharam eles assim ,
a entrada. Os moradores contam hoje muitas histórias sobre a “porta fechada”, mas todos concordam
que dentro da furna
morreu ou foi
enterrada muita gente; por isso
ninguém tem a
coragem de abrir
a porta e examinar
o interior.”
O pesquisador
europeu ficou deveras impressionado com a riqueza
de vestígios pré-históricos da
região valenciana. Tanto
assim que conclui seu famoso
livro “ Antiga História do Brasil” (1928) afirmando que dedicaria à região
de Valença um
estudo especial. Como o
desaparecimento de Schwennhagen,
seu projeto foi
com ele.
Em 1974, o Francês Jacques Marie
de Mahieu esteve
no nosso estado à cata de subsídios
arqueológicos para suas
teorias sobre o
suposto povoamento pré-histórico do Piauí
pelos guerreiros vikings. Não
chegou a visitar Valença, mas baseado no
que escreveu o
austríaco, teceu suas curiosas
teorias sobre as antiguidades do município.
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS:
COUTINHO, Reinaldo -
Antiguidades valencianas – 1ª edição
- 2000 editora Caburé (p 13 a 19-, 23 a 25).
SILVA, Suênia Marla
de Gênesis Soares, Aconteceu não
vi, mas me contaram assim, Projeto
Mais Cultura, dez. 2010, Gráfica
Gadelha –Picos –Piauí.
Obs: Reeleitura do Texto –
Prof. Antonio José Mambenga – Graduado em História e Especialista em História
do Brasil.
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