REPRESENTAÇÕES
SOBRE O COMERCIO EM VALENÇA DO PIAUÍ (recorte histórico)
O Comércio é uma das bases econômicas para o desenvolvimento
de um lugar. Em Valença do Piauí a
atividade comercial é bem remota, cujas manifestações surgiram com a chegada
dos primeiros colonizadores por volta dos anos 60 do século XVII. Com a
instalação das fazendas de gado no início do século XVIII ocorreu a prática de
exportação do gado para outras regiões da colônia.
O extrativismo vegetal da cera de carnaúba, leite de maniçoba
e mangaba foi muito fluente no final do século XIX até o final da década de
1920, bem como a produção de rapadura e farinha e goma.
A falta de documentos escritos dificultam informações mais
seguras sobre o assunto, daí a necessidade de recorrer a História memória para
obter informações pertinentes com
pessoas mais idosas que viram e/ou ouviram falar sobre o comercio e
comerciantes da cidade.
A feira livre, realizada aos sábados em Valença, desempenhou
e ainda continua em voga, por se tratar de um tipo de comercio coletivo onde se
encontra praticamente de tudo, primeiro funcionou num espaço por traz da atual
Igreja São Benedito, debaixo de umas árvores de grande porte, o local ficava às
margens da estrada real que passava entre as atuais casas do Sr Abdias Isidório
e Sr. Jaime Lima Verde. Depois com o desenvolvimento da cidade, a feira livre
funcionou num espaço do cruzamento da Rua Norberto de Castro com Mundico Dantas
até o ano de 1924. O referido local por muito tempo ficou conhecido por “feira
velha”.
Em 1924, o Prefeito Municipal Zeca de Castro, construiu o
Mercado Público, ao lado da Igreja Nossa Senhora do Ó, com espaços suficientes
para instalação de bodegas ou quitandas como eram conhecidas na linguagem de
época.
Na década de 1970 o Prefeito municipal Dr Nemésio Veloso,
construiu um novo local para funcionar a feira livre, dando o nome de Centro de
Abastecimento “O XEREM”. Com a criação do Mercado Público em 1924 ocorreu uma
definição do Comércio, das bodegas, quitandas e/ou mercearias de gêneros. Cada
uma vendia de tudo, praticamente dentro da realidade sócio econômica dos
moradores da cidade e região.
Em todos os estabelecimentos comerciais, tinha sal em pedra,
vendido no litro ou no prato de madeira, ou em pequenas porções chamadas de
“mercado”. O café, era outro produto,
era comercializado no quilo, meio quilo,
250g, mas em grãos e cru em casa era torrado na panela de ferro mexido com uma
palheta de madeira, depois socado no pilão e peneirado, mas antes passava por
um processo de ser emergido em melaço, para pegar a consistência. Do que ficava
na panela e pilão era feito a “margarida”, um café que era degustado por quem
fazia o trabalho de preparação da massa preciosa do café. Era muito gostosa.
O açúcar, para classe popular era tão raro e caro que era
vendido na colher. O freguês chegava e solicitava uma, duas, ou mesmo três
colheres de açúcar. Era preciso adoecer para poder ingerir açúcar.
Linha de costurar, era vendida em novelos pequenos e só tinha
na cor branca. Anil, era em forma cilíndrica no tamanho de 2cm, mas era
procurado como pedra DE ANIL. Biscoitos, era bolacha Maria, também vendida por
unidades. As bolachas vinham em latas de tamanho médio, geralmente nas chamadas
meia latas, mas existiam umas latas em forma oval e outra redondas. Todas com
tampas.
Outro produto muito vendido nestes estabelecimentos
comerciais, era querosene, este também o mais fragmentado possível, litro,
garrafa, meia garrafa e muitos como Dona Tereza Preta, levava a própria
lamparina para comprar o mercado de querosene (quantidade suficiente para uma
noite ou duas). Outro produto muito procurado era fumo de rolo, soda cáustica,
naquele tempo chama de “potassa”
Nome como: Newtom Borges, Celso, Fernando Isidório, Eliseu,
Piano, Zé Arteiro. Pedro Curdulino, Ze Marreiros, Dolande, Ze Cateu, dentre
outros eram referencias, muitos já substituindo outros.
No Mercado Central, existiam outros pontos comerciais, para
venda de tecidos, como a Loja do Sr Joaquim Lima Verde, do Sr Gil Marques, do
Sr Grosso Rabelo, e do Sr João Luzia, onde vendiam: morim, algodãozinho, linho, seda, bramante,
cretone, rendas, chitas, cambraias, opalas, gorgorão, caque, riscado,
tricolina, tropical, eno final da dácada de 1960, o famoso “volta ao mundo” e
tergal. Os tecidos eram chamados de fazendas e eram vendidos no metro. No meio
de tudo isso, tinha também chapéus e pano de rede.
No mercado Público, existia espaço para venda de cachaça
destilada e outras, cinzano, conhaque, são joão da barra, jurubeba e outras
marcas, os clientes comprava, por um sistema chamado “dose”, ou meiota.
Numa das entradas frontais, porque eram quatro ao todo, a que
ficava do lado da Rua Deputado Jose Nunes, ficava o Café da Dona Preta Bolô,
que vendia: beiju de goma, cuscuz de milho, e bolo frito. O referido Café de
Dona Preta, era aberto a partir da 5:00hs da manhã para atender as pessoas que
iam comprar carne no açougue municipal que funcionava no local onde atualmente
é a Casa Dantas e imediações.
Dona Preta, atendia também o serviço de restaurante com um
cardápio variado que ia da costela de vaca, mão de vaca, bife de fígado
acebolado, cozidão, galinha caipira, carne de porco ao molho, assada no forno e
feito frito. As verduras vinham da casa da Chiquinha Furtuosa, eram: cebola em
folha, coentro, alface, folha de
mantegueira e tomates d’água, só aos sábados porque vinham da comunidade
macambira, cultivados por Dona Branca. As abóboras, jerimuns, e macaxeiras,
eram provenientes do Riacho Barnabé trazidos pelo Sr. Martinho Sousa. Com tudo
isso, mas o espaço era conhecido por
Café da Dona Preta Bolô. O serviço de
atendimento era feito por suas filhas: Morena, Leni e a Marlene, mais conhecida
por Noinha mãe do Rarrá, cuja simpatia enobrecia o espaço.
Ao lado do Mercado Público, ficava a Mercearia do Sr Augusto
Sampaio, uma das mais sortidas da cidade, funcionando na cidade desde o final
da década e 1950. Existia também a mercearia do Sr. Eneas Barreto.
Em outros pontos da cidade existia outros estabelecimentos
comerciais: Casa Martins, Farmacia Martins, Farmácia Central, Casa Nunes.
A cidade de Valença, não existia serviço de Bancos, as
pessoas recorriam a senhores da elite local que praticavam a agiotagem, somente
em 1968 chegou a primeira instituição financeira.
A educação escolar, também era um comercio através das
escolas particulares, inclusive o Ginásio Santo Antonio.
A cidade cresceu, com isso o comercio foi se adequando a
realidade de seus habitantes. Novos grupos foram chegando e se radicando na
cidade, nome como o Grupo Dino Barbosa, e tantos outros. Somente na década de
1980 chegou o primeiro Supermercado, o Servilar da Dona Araci e o Sr Natan,
funcionou num espaço de frente o atual Bar da Onda.
A primeira Churrascaria, com garçon uniformizado foi a Meu
Cantinho, do Juvenal Marreiro, funcionou em frente a Creche Dayane Lima Verde.
Os Bares e restaurantes, que também são referencias
comerciais, podemos citar o Bar Glória às margens do Rio Catinguinha e o Bar
Glória, a Pensão Moderna e a Pensão Melão. São tambem referencias comerciais
que não podem deixar de ser citados, O bar e Restaurante Alvorada, a Casa
Flórida e os Postos de Gasolina
Alvorada, e o Posto Esso, que funcionou em frente ao antigo Bar Glória.
Percebe-se que o comercio valenciano, funciona como um dos
setores de desenvolvimento da cidade. Parei na década de 1980, ficando os anos
1990 a atualidade um novo texto.
Texto: Prof. Antonio Jose Mambenga
Valença do Piauí, 04/05/2019