HISTÓRIA DA IGREJA
NOSSA SENHORA DO Ó EM VALENÇA DO PIAUÍ
Prof. Antonio Jose Mambenga
A cidade de Valença do Piauí, teve origem da aldeia dos
índios aruaques. Em 20 de setembro de 1762, o governador da Capitania do Piauí,
João Pereira Caldas, instalou a Vila, dando o nome de Valença em homenagem à
sua cidade natal, Valença em Portugal.
Em 30 de dezembro de 1889, Valença foi elevada à categoria de
cidade.
No ano de 1943, passou a denominar-se Berlengas, conservando
este nome até janeiro de 1949 quando passou a denominar-se Valença do Piauí.
A cidade de Valença do Piauí, conhecida como “Cidade
Sorriso”(1984) e/ou Rainha dos Sertões (Ferry: 1951 – p 10), traz na sua
cotidianidade uma imagem hospitaleira, típica das cidades interioranas,
destacando-se entre as demais do seu tope, pela forma pacata, mantendo suas
tradições religiosas, culturais e os costumes típicos das cidade interioranas. A
cajuína e suas comidas típicas, somam aos atrativos de seu calendário religioso
social, cívico e histórico cultural,
além da beleza natural e de seu acervo
dentro do patrimônio material e imaterial.
Segundo o Pe Gilberto Freitas, no seu livro, História de um
povo e sua fé, o primeiro registro sobre a existência de uma Igreja em Valença,
data de 09 de fevereiro de 1727. Essa Igreja era apenas uma capela de taipa,
pequena e particular, dedicada a Nossa Senhora do Ó.
Em 1836, por força da Lei provinciana Nº 52 de 05 de
dezembro, foi determinado a transferência da sede de residência do Pároco de
Aroazes, João Antonio Cardoso Sampaio, para vila de Valença, já com o título de
Paróquia de Nossa Senhora do Ó, conservando esta denominação até 1946.
Com a chegada do Cônego Acylino Baptista Ferreira Portella,
em 1879, foi necessário a construção de
um novo Templo, que pudesse atender a demanda dos fieis católicos, provocado
pelo bom pastoreio do referido sacerdote, uma vez que, percorreu a cavalo, todo município de
Valença, evangelizando e conhecendo a
realidade do povo, através das chamadas desobrigas religiosas.
Com a eclosão da República Brasileira em novembro de 1889,
ocorreram várias transformações no país, ocasionadas pelo movimento
positivista, que culminou com o desligamento da Igreja do Estado. Momento
também que todas as vilas do Estado Brasileiro foram elevadas a categoria de
cidade e Valença, foi uma delas.
A cada dia, a cidade de Valença dava sinal de progresso, tudo
isso impulsionava o Cônego Acylino, pensar na construção de um novo templo
Sagrado, que pudesse atender o grande numero de fieis. E de acordo com o Bispo
do Maranhão Dom Antonio Cândido e os membros da Confraria de Nossa Senhora do
Ó, a pedra fundamental da nova Igreja, foi lançada no dia 27 de agosto de 1893,
com grande festa.
Segundo o Pe Marques, o projeto da construção da igreja, teve como base a Igreja Nossa Senhora dos
Remédios da cidade de Picos-PI, mas os pedreiros se confundiram com as medidas, aumentando os
espaços, mesmo assim foi construída, inclusive com duas torres singelas no frontal.
A nova igreja de Valença, levou cinco anos para ser
construída, mas no dia 18 de dezembro de 1898, dia dedicado a Nossa Senhora do
Ó, o Templo foi oficialmente batizado, momento também que ocorreu uma
celebração Eucarística, que contou com a presença dos Padres: Francisco Jose
Batista(Amarante); Carino Nonato da Silva(Monsenhor Gil); Jose Dias Freitas(Oeiras),
cuja celebração foi presidida pelo grande idealizador e construtor, Cônego
Acylino. A celebração contou também com um grande número de fieis e autoridades de todo município.
Não foi fácil, construir o novo templo, uma vez que o
município, ainda estava vivendo a transição da mudança de vila para cidade e se
adaptando aos novos paradigmas da República e ainda as seqüelas deixadas pela
terrível seca de 1877 que devastou quase tudo. E como afirma, Reginaldo
Miranda(2012): Em Valença, o Cônego Acylino, construiu e adornou a nova matriz
em local diverso, para isso, a falta de recursos tendo despender mais de vinte
contos de reis do seu próprio bolso, à custa do empenho de bens particulares.
Em 1948, o Pe Raimundo Nonato de Oliveira Marques, em pleno
acordo com o povo da zona urbana e rural, bem como com as autoridades locais e
estaduais, e aval do Bispo Dom Severino Melo, fizeram uma ampliação geral
na atual Igreja Matriz, ainda conservada
até a atualidade. Da construção de 1898, foram demolidas as duas singelas
torres laterais, os oratórios laterais internos, mas foram construídos dois
corredores e braços laterais, bem como
largas colunas no estilo neoclássico, com 1,35 cm de largura, o altar-mor. As
capelas que atualmente são dedicadas ao Santíssimo Sacramento e ao Divino
Espírito Santo, um nicho para as imagens de Bom Jesus dos Passos, Nossa Senhora
das Dores e Senhor Morto e um outro, que por muito tempo serviu para Pia
Batismal, onde ocorriam os batizados.
O grande diferencial da reforma, foi a construção da enorme
torre, vista de todos os pontos da cidade, nelas abrigam os sinos e um
grande relógio.
Para reforma e ampliação da Igreja Matriz, a população
tornou-se protagonista, mas à medida que o tempo passava, a euforia inicial se
tornava estanque, o poder econômico de cada um comprometia, provocando um
choque entre a força física e a limitação financeira de grande parcela da
população, mesmo assim, o grande projeto teve que sofrer uma modificação, a
segunda torre tornou-se apenas uma utopia. O próprio Pe Marques, sentiu
necessidade de parar, porque viu que a população já estava exausta financeiramente, porém via em cada um dos devotos, a vontade de ver a outra torre concluída,
porém a força física superava a financeira, e a fé em Nossa Senhora do Ó, encorajava todos.
O certo, é entender que não foi fácil, fazer a reforma e
ampliação da Igreja matriz de Nossa Senhora do Ó, num exíguo espaço de tempo,
1948 a 1956. Pe. Marques, contou com ajuda do povo católico, que não media
esforço para ver o serviço concluído, mesmo sabendo da impossibilidade da
construção da segunda torre.
Segundo alguns fieis, tudo era feito com muito entusiasmo,
famílias inteiras, sem distinção social e/ou cultural, após a missa de domingo
de manhã, se deslocavam até o bairro Cacimbas, para buscar pedras, tijolos,
areia, barro, e trazer até a igreja para ver o andamento da construção, à
noite, ocorria o mesmo pós a missa das dezenove horas enfrentando a escassez da
iluminação públicas, mas as lamparinas e fachos de cipó de vaqueiro eram
utilizados para enfrentar o caminho estreito e cheio de buraco que interligava
a igreja ao bairro Cacimbas .
Muitos mestres de carpintaria, pedreiros e/ou operários sem
qualificação profissional, prestavam serviços. Sob a orientação do Mestre
Acilino, na parte da carpintaria, nomes como: Didito, Manoel Apolinário, Zé
Dandá, Manoel Mambenga, Mestrim, Cornélio,
Zequinha Carlota, Zé Tenório, Mário Lima, Zé Ferreira e Milú, Antonio Mambenga, Arão
Tenório, cuidavam da montagem
do teto, das portas e das
janelas, enquanto a parte de paredes e rebocos, ficavam a cargo de Antonino
Carlota, Justino Poty, Pedro Bolô, Antonio Maciel, Joaquim Pereca, Osvaldo da
Dona Filomena, e tantos outros.
As madeiras das linhas, caibros e ripas e barrotes, foram
trazidas da região de Aroazes, Novo Oriente e Várzea Grande, porque somente
nestes locais existiam árvores de grande porte, cuja condução era feita pelo
próprio Pe. Marques, no seu jepp, amarradas na parte trazeira do meio de transporte e puxadas até o quintal
da igreja, onde existia uma grande mangueira e operários de força como Ze
Ferreira, Milú e Zé Paraguai, Augustinho do Sambito, Antonio Monteiro faziam o tratamento da madeira e depois serravam numa serra rústica,
uma vez que o serrote vertical, individual ainda não era conhecido na cidade. A
serra, era estilo daquelas mostradas nas obras de arte de Debret. A última,
encontra-se no acervo museológico da Secretaria de Cultura nesta cidade. Outra
parte do material, era colocado debaixo do cajueiro do Melão, frente ao Grupo
Escolar Cônego Acylino ou mesmo no antigo prédio do Cassino, onde atualmente
funciona o juizado das Pequenas Causas.
A água para construção, vinha do Poço da Prefeitura,
localizado no bairro Cacimbas, carregada
em ancoretas, sob o lombo de jumentos. Os tijolos, foram construídos na Olaria
do Sr. Romão Batista de França e outra parte nas imediações do Olho Dágua,
confeccionados pelo Sr. Benedito Branco, Sr. Izídio irmão do Sr. Kaé, enquanto as telhas, foram confeccionadas,
parte na Lagoa Seca, outra parte no Retiro e outra na Lagoa do Barro perto do
Sitio Betel, sob a orientação do Sr. Jose Cesário. O Altar-mor, ficou a cargo
do mestre Antão, proveniente de Pimenteiras e seus operários, dentre eles
Antonio Maciel.
Assim foi feita a ampliação e reforma da Igreja Nossa Senhora
do Ó em Valença do Piauí, de forma parcial, porque a limitação financeira do
povo e da própria Igreja não foi possível construir a segunda Torre, o que
causa uma lacuna na certeza do dever cumprido e interrogações quando alguém ler
o Soneto VALENÇA, do poeta valenciano João Ferry
Minha Valença é como uma rainha
Exilada no centro dos sertões...
Corre em seu seio o riacho Caatinguinha,
Que a divide em dois meigos corações
De um
lado vê-se, linda, uma capela,
Desde
1840,
Do outro
lado, a Matriz simples e bela,
Duas
torres lindíssimas ostenta.
Nos telhados, na branca casaria,
Nos flamboyans esparsos pelas
Em tudo se denota uma
alegria.
Para
pintá-la é pouco este folheto,
Descrevo-a, mas bem sei que as cores suas,
Não
podem conter neste soneto.
O certo, é que a
Igreja Nossa Senhora do Ó, é um dos maiores templos católicos do Piauí,
possuindo 22,80cm de largura e 39 m de comprimento, mas a ausência da segunda
torre, causa espanto e grande confusão, principalmente quando se lê o soneto
Valença de João Ferry, quando ele fala das duas torres e você olha e só vê uma
torre, mas como a História é investigativa e
analítica, encontrou uma resposta pra as perguntas, retornando ao tempo
e descobrindo que o soneto do Ferry, foi feito em abril de 1922, quando na
realidade existiam as duas torres singulares, na Igreja Nossa Senhora do Ó, uma vez que a torre atual data de 1956, daí,
nada mais justo e buscar embasamento em Eclesiastes: 3:1, quando alude sobre o
tempo: Para tudo há uma ocasião certa, há tempo certo para cada propósito
debaixo do céu.
O momento é mais que oportuno para concretização do grande
sonho do povo valenciano, vê a segunda torre da Igreja construída, para tanto é
preciso que cada um faça sua parte para que seja concretizado o querer, porque
o ser não funciona sem as aspirações do querer.
BIBLIOGRAFIA:
FREITAS, Pe. Gilberto – História de um povo e sua fé, Gráfica
Mendes – Teresina – PI – 1997
FERRY, João Francisco- Chapada do Corisco, Imprensa Oficial –
Tersina – PI 1952
FERNANDEA, Jose Nunes, Aspectos da Arquitetura de Floriano –
Academia Piauiense de Letras – Teresina – PI – 1991
MIRANDA, Reginaldo, Biografia do Cônego Acylino Portella –
Revista Eletrônica da Academia Piauiense de Letras - 2012
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