HISTÓRIA DE VIDA: MIGUEL DE SOUSA FILHO
A vida de cada um é constituída de momentos. Alguns são
passageiros. Outros pela dimensão que possuem
tornam-se eternos. Sabemos que nossa vida aqui na terra é apenas uma
passagem, mas nos apegamos tanto que
queremos que se tornem eternos. Quando menos esperamos, cumpre-se o prazo de
permanência momento que ocorre a
separação.
O século XX, transcorria normalmente. As turbulências econômicas e sociais dos anos 1920, se
amenizavam. O mundo, vivia o sistema totalitário protagonizado pelo Nazismo e
pelo Fascismo. Enquanto isso, na zona rural de Valença, no estado do Piauí, na
localidade Riacho Barnabé, nascia,
Miguel de Sousa Filho, no dia 12 de janeiro de 1934, filho de Miguel Liberato
de Sousa e de Maria Barbosa Lima.
Miguel, teve uma infância igual das outras criança de sua
época, voltada especificamente para o labor típico da agricultura familiar,
adequada à sua idade e condição física. Nas horas de folga, vivia seu lado infantil
e juntamente com seus irmãos, caçavam passarinhos, montavam em jumentos,
cavalgavam nos campos, mas nunca fugiam do normal, uma vez que os pais eram
severos e tinham que obedecer às ordens que lhe eram atribuídas.
Em 1946, já com 12 anos de idade, seus pais foram morar na
comunidade Comboeiro, mas seu lugar predileto era o Riacho, onde existiam seus
familiares mais próximos. A saudade da terra berço, só não era maior porque a
distância não era tamanha e sempre que podia passa por lá.
O menino Miguel, já não era mais criança, aos 12 anos entrava
na juventude o que já lhe pesava sobre os ombros a responsabilidade de adulto.
Os afazeres infantis, foram trocados pelo jovem rapaz, por um labor mais
direcionado para sociedade de época.
A vida campesina, lhe oportunava acreditar numa vida futura,
as aptidões de cuidar da roça, do gado, lhes davam uma maturidade para entender
que já era tempo de constituir família. Casou-se com Maria Rocha de Sousa e
dessa união conjugal, tiveram sete filhos: Eneida Maria, Maria do Socorro,
Francisca Maria, Ivanide Maria, Jose
Barbosa, Deuzelina Maria, e Edimar Rocha.
O certo é que a vida de Miguel, não foi fácil. As
dificuldades ocorriam, mas Miguel sempre encontrava uma alternativa para
superar.
Como vaqueiro, cuidou do rebanho dele e de outras pessoas da
comunidade. Muitas vezes, teve que fazer carvão vegetal, para angariar recursos
financeiros para comprar alimentos para os filhos.
Miguel, aprendeu com a graça de Deus, o ofício de aplicador
de injeção, função essa que exerceu com muito afinco, uma vez que prestava o
serviço, não só na comunidade mas nas localidades da circunvizinhança. Outra
função que exerceu por muito anos, foi a de cortador de cabelo, não só dos filhos
e outros membros da família. Era procurado por outras pessoas da comunidade
para terem os cabelos cortados por ele.
Por mais de duas décadas, manteve em sua residência no
Comboeiro, uma quitanda, com produtos específicos: cachaça, fumo, querose,
fósforo, sal em pedra, cigarro, bom-bom, e muitos outros produtos de primeira
necessidade.
Na parte artística, possuía o don da rima e do repente,
resultante da literatura de cordel que lia. Gostava muito de cantoria e de
baião de viola.
Miguel, era o poeta símbolo da comunidade Comboeiro. De tudo
fazia uma rima, o que deixava as pessoas
felizes, pela forma e o limite como conduzia seus poemas. As
brincadeiras eram constantes, e a presença de Miguel era sempre uma animação
nas rodas de conversa e nas festas familiares. Ele se sentia feliz pelo que fazia.
Mas como, aqui na Terra, somos apenas visitantes, Miguel, foi
acometido pela doença que lhe levou a óbito, cuja passagem ocorreu no dia 16 de
agosto de 2016, em sua residência no Comboeiro.
Foi o homem, ficou a História e a certeza do dever cumprido,
isto porque, ninguém morre enquanto permanece vivo na memória de um povo.
Valença do Piauí, 16 de setembro de 2016.
Texto: Prof. Antonio Jose Mambenga